DA
IMPOSSIBILIDADE DE CONHECER DEUS PARA DEPOIS CRER NELE.
Texto temático: João 6. 44.
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu
o ressuscitarei no último dia.
O texto em epígrafe afirma que o homem não pode encontrar Deus.
Deus o encontra. Vemos a experiência do encontro de Deus com a criatura ao
longo das Escrituras e não o contrário. Deus encontrou Noé, Deus chamou Abraão,
Deus se revelou a Moisés, Jesus se revelou e convidou os discípulos. Paulo foi
encontrado por Deus no caminho de Damasco. É longa a lista.
A ideia do homem descobrir a pessoa de Deus, parece pretensiosa,
sobretudo, porque não se chega ao conhecimento de Deus, senão a partir de Deus.
É bem apropriada, neste sentido, a frase de Irineu (um dos pais da igreja):
“Sem Deus não se pode conhecer a Deus”. Desta forma, a revelação inaugura o
processo de conhecimento da pessoa de Deus. Sem a revelação não é possível
conhecimento. Quando Jesus diz “ninguém pode vir a mim se o pai, que me enviou,
não o trouxer”, ele está deixando claro que é impossível entrar num
relacionamento com Deus, sem antes haver uma ação diretiva de Deus em trazer
este homem para perto Dele.
Quando a teologia coloca Deus como objeto de pesquisa ela comete um
erro, pois “Deus jamais é objeto”[1],
em termos epistemológicos. Pois nas ciências o objeto de dada disciplina
precisa ser abstraído, mensurado, quantificado, comparado. Neste caso, Deus não
pode se submeter a este processo, pois Ele é transcendente ao tempo e ao
espaço. Portanto, toda ideia de conhecer Deus a partir do homem se traduz num
equívoco. O que parece razoável é conhecer Deus a partir do momento que ele se
revela o homem e ilumina seu entendimento.
Outra questão, ainda mais intrigante, é que Deus começou este mundo
a partir do nada[2].
Não havia uma matéria, uma coisa, um objeto por meio do qual Deus criou este
mundo. Ele partiu do nada, logo pensar que alguma coisa, objeto ou criatura
seja capaz de chegar ao conhecimento de Deus por si mesmo, é uma
impossibilidade lógica. A criatura não abriga em si qualquer dispositivo
científico que lhe possibilite conhecer Deus, pois ela não tem prévio
conhecimento. Ela existe a partir de dado momento, ou seja, ela não é eterna. O
temporal não pode vasculhar o eterno. O finito não pode esquadrinhar o
infinito.
Não se trata de um certo tipo de agnosticismo, mas de hierarquização
do relacionamento com Deus. O homem não conhece Deus para crer e se relacionar
com ele, mas Deus se revela ao homem a fim de que este homem saiba quem é Deus
e qual a sua vontade. Isto parece evidente na conversa de Deus com Arão e
Miriã, descrito no livro de Êxodo.[3]
Deus só pode ser conhecido até onde ele quer se revelar. Se o conhecimento de
Deus partisse do homem, Deus poderia ser esmiuçado, esgotado e dissecado, mas
não é assim que o Velho Testamento ensina[4].
Muito bem! Feitas estas considerações, parece que a teologia do
Novo Testamento identifica-se mais com o a filosofia de Platão, uma vez que a
filosofia Platônica valoriza mais o mundo supra-sensível (mundo das ideias),
bem como, entende que existe uma vida superior ao mundo material. A ideia de um
mundo transcendente, perfeito e imutável é proposta tanto pelo platonismo como pelo
Cristianismo.
[1] TILLICK, Paul. História do
Pensamento Cristão. 4 ed.São Paulo: Aste, 2007
[2] Pela fé, entendemos que foi o
universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir
das coisas que não aparecem – Hebreus 11. 3.
[3] Então, disse:
Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o SENHOR, em
visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos – Êxodo 13. 3.
[4] As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém
as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei.