IMPACTO DA
AGRICULTURA MECANIZADA NO MUNICÍPIO DE BOCAIUVA – MG
José Roberto Limas da Silva[1]
Fonte: https://reporterbrasil.org.br/2018/10
O município de Bocaiuva está localizado no norte de Minas, em direção ao
Vale do Jequitinhonha. Encontra-se a 686 metros de altitude e tem as seguintes
coordenadas geográficas: Latitude 17˚ 6’ 55” Sul e Longitude 43˚ 49’ 16” Oeste.
A vegetação predominante é de cerrado, com terras mais ácidas e regime de chuva
de baixa pluviosidade e concentração das chuvas no período de novembro a
fevereiro. O município de Bocaiuva tem pouca tradição na agricultura, senão
naquela de subsistência, prevalecendo a pecuária de corte.
Considerando a proposta desse texto, que é demonstrar o impacto da agricultura
mecanizada em nosso município, antes de mais nada, precisamos dizer que não há em
nosso município lastros desta moderna agricultura no que concerne ao cultivo de
espécies agrícolas tradicionais (como o trigo, a soja, o milho, arroz etc),
outrossim, temos, recentemente, na silvicultura (cultivo de espécies
florestais) um fator marcante na economia de nosso município.
A implantação de florestas de eucalipto em nossa região se tornou a
legítima sucessora das práticas agro-pastoris de subsistência de nosso meio
rural. Ainda, que não consideremos a silvicultura como prática, eminentemente,
agrícola, seu perfil espacial e social preencheu esta condição, sobretudo no
abarcamento da mão – de – obra do meio rural e como alternativa comercial para
terras de pouco valor para a agricultura.
Somente, a título de informação, temos atualmente no norte e vale do
Jequitinhonha uma área de 4.074 km2 de eucalipto plantado. Já ocupou área maior
na década de oitenta, atingindo mais de 6.000 km2. Um fato digno de nota é que
no período inaugural do cultivo do eucalipto, somente, em nosso município e
entorno, absorveu uma mão – de – obra superior a 2000 pessoas. O autor deste
artigo, inclusive trabalhou numa destas empresas na década de oitenta em áreas
de plantio, irrigação e corte do eucalipto, e pode testemunhar que a mão – de –
obra, majoritariamente, absorvida era braçal.
Bom! Depois destas breves considerações, chamo a atenção para o fato de
que estas florestadoras e reflorestadoras estão, atualmente, na vanguarda da
agricultura mecanizada e tecnificada, possuindo o que há de mais moderno no
preparo do solo, no controle de pragas/ervas daninhas e na colheita (corte) do
eucalipto. Na minha região a silvicultura predominante é a da monocultura do
eucalipto, com algumas minúsculas “manchas” de pinus, sendo que “a produção
dessas regiões visa abastecer, principalmente, as siderúgicas da Região Central
do estado” (fonte: http://www.portalseer.ufba.br/
index.php/geotextos/article/viewFile /5931/4645).
Recentemente, estas empresas de reflorestamento (Plantar, V&M
Florestal, Florestaminas, Acesita, Refloralje etc) implementaram a mecanização
na produção do eucalipto. Sendo que o plantio, a capina, o combate às pragas, o
corte e o transporte estão quase que totalmente mecanizado. Uma das etapas que
mais consumia mão – de – obra era o corte e beneficiamento do eucalipto. Para
se ter uma ideia do enxugamento do trabalho manual, existe, hoje, uma máquina
que derruba, desfolha, descasca, pica, empraça e carrega os caminhões. Isto era
trabalho para centenas de homens. Esta situação é tão grave que, nas fazendas
de eucalipto, da minha região, que empregavam em torno de 2.000 (duas mil)
pessoas, hoje possui um contingente de mais ou menos 200 (duzentas) pessoas
trabalhando.
Uma questão que deve ser observada é que estas empresas (do ramo da
silvicultura) operam no mercado de forma semelhante às grandes empresas do agro-negócio,
que produzem para atender, precipuamente, às demandas da indústria e do mercado.
Os produtos do agro – negócio brasileiro, exportados na forma de comodities
(produtos básicos in natura), que são mercadorias essenciais para o consumo
humano, como cereais, frutas, carnes etc guardam grande semelhança com a
exploração da monocultura do eucalipto norte mineiro. Este último visa
abastecer a indústria siderúrgica mineira que tem como carro – chefe a
exportação do ferro e do aço para o mercado estrangeiro (Estados Unidos, China,
Oriente Médio). A crítica conhecida à Revolução Verde, como a perpetrada por
MOREIRA (críticas ambientalistas à revolução verde) se desenvolve em três
frentes:
a) Crítica técnica: Diz respeito ao manuseio nada
escrupuloso do solo, sobretudo com uso de forças agressoras ao processo natural
e gradual de formação dos solos. Isto sem falar pela ação poluente e
destruidora de micro-organismos do solo, através do uso de diversos
agro-tóxicos (herbicidas, adubos químicos, inseticidas etc);
b) Crítica Social: Está relacionada com a
priorização de um segmento social, que passa ter prioridade no acesso ao
crédito, que é o caso das grandes empresas e corporações, algumas de origem
estrangeira, em prejuízo do pequeno agricultor ou do assentado. Não somente
isto, o modelo de agricultura voltado para a indústria e o mercado não
contempla mercados locais, realidades sociais de populações minoritárias que
estão ou estavam em estreita relação histórica, cultural e econômica com aquele
ambiente. Um dos fatores mais nocivos é a elevada concentração de terras no
cultivo de uma mono-cultura, por exemplo;
c) Crítica Econômica: O modelo do agro-negócio,
especialmente, reflete bem esta forma concentradora de renda na mão dos grandes
empreendedores. As perdas são imensas, pois, este negócio depende de pouca mão
– de – obra humana, diminui o acesso às terras agricultáveis, gera evasão de
rendas com a aquisição de insumos caríssimos importados do exterior.
Por fim,
analisando, a realidade do meu município, endosso e estendo às críticas à
agricultura modernizada/tecnificada, sobretudo, tendo em vista o advento da
Revolução Verde, e mormente, considerando o agro-negócio brasileiro. Por que
faço isto? Observando a vida do nosso povo sertanejo e a paisagem rural, ao meu
redor, percebo prejuízos irremissíveis, e para mim, impossíveis de serem
compensados. Passo a alistá-los e eles expressam a minha conclusiva opinião
sobre o tema proposto:
A) A silvicultura retirou o pequeno agricultor de seu
cultivo de subsistência e depois o lançou na rua da amargura do desemprego;
B) A silvicultura, perpetrada pelas florestadoras,
comprou a preço de banana as terras dos pequenos agricultores e empregou seus
filhos á preço de nada;
C) O eucalipto roubou a diversidade do cerrado e
arrasou o seu solo, sugando a sua limitada fertilidade. Quem anda por estas
bandas do norte, em um talhão que já foi plantado eucalipto,sabe que ali só
nasce angiquinho (planta herbácea espinhenta, sem utilidade);
D) O eucalipto bebeu as águas das nascentes, invadiu as
margens dos rios e secou os brejos;
E) O eucalipto consumiu a água e a matéria orgânica do
cerrado e espantou as milhares de espécies animais que se abrigavam e
alimentavam de sua variada flora, especialmente, as que frutificavam como o
pequi, o murici, a caigaita, o araçá, o ananás etc;
F) O pequeno agricultor, agora, sem terra e sem
trabalho vai perambular pelos butecos da cidade, a espera de outra
reflorestadora se instalar no que sobrou do cerrado.
Até aqui,
minhas impressões!