O
dualismo cristão em face da cultura consumista da pós-modernidade.[1]
1 –
Introdução:
Inicialmente,
podemos dizer que as comunidades cristãs primitivas, que partilhavam de uma
teologia mais baseada na oralidade e na experiência judaica do velho
testamento, cultivavam uma vida bastante ascética e devotada. Vemos nisto o
nascimento do dualismo cristão na igreja judaica do primeiro século. Já a
igreja do segundo século é uma igreja gentia (não judaica) que passa a dispor
de alguma literatura religiosa escrita, começando a discutir uma práxis
religiosa baseada nos evangelhos e nas cartas paulinas. A necessidade de fazer
frente às seitas filosóficas gregas, como o gnosticismo, obriga a igreja a
repensar sua teologia e sua prática religiosa.
A
partir do século IV depois de Cristo, em tempos de tolerância religiosa e de
estabelecimento do Canôn do Novo Testamento, a igreja desenvolve uma teologia e
uma eclesiologia mais elaborada e crítica em relação ao percurso da igreja ao longo
dos séculos. Não obstante, é ainda, uma teologia que valoriza o ascetismo e o
monasticismo. A mentalidade dualista, representada pela reclusão e devoção
asceta, “se afastando da vida social para aprimorar a vida espiritual”[2],
vai perdurar por toda a idade média. Neste sentido, “as ideias do filósofo Platão
permeiam a mentalidade”[3]
cristã. Muitos religiosos vão se afastar da vida social para se recolher a um
mosteiro. Desta forma, permanece o pensamento de que o mundo material é mau e
que o corpo é um inimigo da devoção espiritual.
No
alvorecer da reforma protestante, o foco será o estudo das Escrituras como meio
de devoção a Deus. A vida separada do mundo e alienada das realidades políticas
e sociais é repensada. A maioria dos reformadores vai propor uma vida religiosa
contextualizada à realidade material e cultural. Muitos cristãos, desde este
período da história, argumentam que “quando se
pratica uma vida religiosa baseada no ascetismo e no monasticismo não se vive
uma vida saudável, pois o indivíduo renuncia aos planos naturais da vida”(...)”[4]. Outra crítica recorrente é
que “o ascetismo leva o indivíduo ao isolamento das ideias, da cultura e até
mesmo de avanços intelectuais”[5].
Em busca do seu espaço no mundo e de um retorno a uma vocação
missionária, a igreja reformada vai privilegiar a aproximação da religião do
sistema político e cultural, entendendo que “a igreja, nesse momento da
história deveria influenciar o mundo, conquistar povos, ganhar cidades já que
buscamos a transcendência”[6]. Entretanto, há quem atribua
este arrefecimento na vida monástica e ascética ao desenfreado “consumismo
presente na modernidade”[7], bem como, pela substituição
da devoção pelo “trabalho e pelo lazer”[8].
Não
obstante, a herança dualista e dicotômica (duas realidades em oposição, e duas
realidades em composição) vai permanecer em alguns segmentos cristãos,
especialmente nos grupos mais carismáticos. As igrejas pentecostais (início do
século XX) vão representar bem este comportamento mais ascético e monástico,
muito embora, até neste meio, observemos que há um “afastamento deste
pensamento frente à vida e a realidade social”[9],
mas precisamos admitir que “a herança dualista permanece”[10]
em grupos mais fechados e fundamentalistas.
Esta
herança dualista, manifesta através do comportamento monástico, pode apresentar
novas roupagens na cristandade pós-moderna. Se a vida monástica da igreja
primitiva e da idade média propunha um afastamento social e geográfico do
mundo, podemos perceber em alguns segmentos neo-pentecostais uma busca de
isolamento do fiel, “mesmo estando em grupos”[11],
caracterizando um isolamento social/individual, mas não geográfico. Estes novos
comportamentos parecem estar associados ao “padrão comportamental consumista”[12]
da nossa pós-modernidade, onde o mercado de capital globalizado determina a
vida social.
[1] LIMAS, José
Roberto. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[2] ARAÚJO,
Gilsiene. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[3] TAVARES,
Cleriston Cleber. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[4] FOLGADO,
Guilherme. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[5] DURÃES, Carlos.
Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[6] ALVIM, Ana
Paula. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[7] PIRES, Roberto
Azevedo. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[8] MONTEIRO, Sidney Ribeiro. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[9] MEIRA, Elaine.
Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[10] ARAÚJO,
Claudinei. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[11] LEITE, Janete.
Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[12] LEITE, Iago. Curso
de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
Muito bom texto, gostei muito da dinâmica aplicada, foi acrescentado um pouco de cada aluno, tornando um texto harmônico e muito esclarecedor.
ResponderExcluirTexto acima, Cláudinei
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