Teologia e ciências modernas – Uma proposta de
reconciliação
Entendemos que se faz necessária uma releitura das ciências
modernas, em face do papel da teologia no fornecimento do substrato histórico e
epistemológico das ciências. A ideia de uma ciência autônoma e auto-suficiente se revelou um
equívoco, sobretudo quando ela se propõe a banir sua herança
mítica/simbólica/religiosa.
As ciências modernas (século XIX em diante), especialmente, em
face do positivismo Comtiniano[1] varreram para debaixo do
tapete toda a herança metafísica. A partir de então, todo conhecimento que não
possa ser quantificado e explicado de forma objetiva e matemática não pode ser
considerado conhecimento verdadeiro (científico). Neste sentido, todo
conhecimento herdado das sociedades tradicionais, bem como, todo conteúdo
mítico, sagrado e religioso foi jogado na lata de lixo da modernidade.
Ocorre que a pós-modernidade pôs em cheque a ciência moderna,
revelando a sua imprecisão científica, sua incompletude e sua incapacidade de
lidar com os dramas da humanidade. A ciência moderna falhou porque não soube
abraçar a sua herança pré-científica. Desta forma, entendemos que uma filosofia
das ciências (ou se você preferir, uma epistemologia honesta) deve contemplar a
herança metafísica das ciências modernas.
As ciências modernas precisam reconhecer que o edifício científico
foi erigido sobre o conhecimento mítico e religioso da antiguidade. O
pensamento teológico é o pai do pensamento científico, ou seja, a
racionalização é precedida de uma subjetivação. Não há ciência sem imaginação e
crença. A ciência exige crença, e crença é subjetivação. Pensando assim,
invocamos o bom senso da comunidade científica e religiosa em admitir a
necessidade de um sentimento humilde, tolerante e colaborativo.
O apartamento das ciências da religião é negativo para o teólogo
e inadmissível para o verdadeiro cientista. Não existe a necessidade do
enfrentamento entre ciência e religião. A ciência é filha da teologia. Como
disse Bacon: “Um pouco de ciência nos afasta de Deus; muita ciência nos conduz
a Ele.” Portanto, quando pensamos uma ciência absolutamente ateia, estamos
arrancando os fundamentos dela. Nenhum edifício se mantém de pé, quando seus
fundamentos são removidos.
Outrossim, uma ciência sem a mediação religiosa, constituída
pelos valores e pela ética vai sucumbir aos caprichos dos tiranos, pois toda
ciência está sujeita a uma esfera de poder. Ademais, existe uma relação
espontânea e natural entre ciência e religião. Não se trata de uma
subserviência da ciência à teologia ou vice-versa, mas de uma atitude de
colaboração, tolerância e dependência.
Por fim, a teologia não precisa temer a ciência, pois não
podemos pensar o mundo de forma razoável, sem apelar a uma cosmogonia. Nenhuma
ciência se estabelece se o seu objeto de pesquisa não possuir uma gênesis. Como
explicar um objeto que não sabemos de onde vêm, suas relações originais, sua
fundação? A ciência sem a religião não tem competência para isto, veja o
notório caso da teoria do Big Bang. Não podemos esquecer, também, que toda
criação artística ou científica não acontece num vácuo histórico, mas numa
volta ou releitura de ideias anteriores (originais).
Pr. José Roberto Limas da Silva
Veja este vídeo sobre o tema:
https://youtu.be/HPRdlJBrqFA
[1] Teoria de August Comte acerca
do conhecimento científico, atestando que somente este tipo de conhecimento é
confiável e verdadeiro. E que as formas anteriores de conhecimento ( mítico,
metafísico e popular) não nos conduzem a verdade.