“Lições sobre o que é verdadeiramente
importante.”
Mateus 15. 10, 11
“E, tendo convocado a
multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que
contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.” (Mateus
15. 10, 11)
“Não compreendeis que tudo o que entra pela
boca desce para o ventre e,
depois,
é lançado em lugar escuso?” (Mateus 15. 17)
É notável como nossas atitudes deixam claro que
nos movemos pelo que é urgente e por aquilo que é evidente. Nossa preocupação é
muito maior com o que está diante dos nossos olhos, do que com o que está
dentro de nosso coração. O texto acima, que mostra a observação de Jesus quanto
ao que de fato pode nos contaminar, nos remete a consideração da seguinte
questão: é importante o que está de fora e que entra para dentro de nós
(alimento), ou o que está dentro de nós (pensamentos, emoções), já
estabelecido, e que jorra para fora de nós?
Analisando bem, o que entra em nossa boca, nem
sempre é bem conhecido. Sabemos que o alimento é retirado da terra, transportado,
manuseado, ou seja, não temos domínio sobre todo o processo até ele chegar a
minha mesa. Paulo ensina aos cristãos de Corinto que “devemos comer de tudo que
se vende no mercado, sem nada perguntarmos”(1 Co. 10. 25, 26). Historicamente,
temos conhecimento que o homem se organiza em sociedade, somente, a partir do
momento que é capaz de cultivar espécies vegetais para alimentação (em torno de
10 mil anos atrás). Por isto podemos considerar que a busca, do homem, mais
básica, é a do alimento. Mas, para nós, cristãos, esta não deve ser a busca
mais importante, porque “não devemos trabalhar pelo pão perecível, mas pelo que
permanece para sempre” ( Jo. 6. 27).
Uma questão a ser enfrentada, e que Jesus está
colocando ela de maneira clara, nesta passagem, a partir do versículo 17, é a
de que o alimento não nos influencia por muito tempo, pois logo é lançado fora.
A crença de que o alimento é determinante na formação do caráter, era levada ao
extremo pelos povos antropófagos, que acreditavam que ao alimentarem-se da
carne de um guerreiro virtuoso, estas características físicas, mentais e
emocionais lhe eram transmitidas.
A religião judaica, de alguma forma, acreditava
também que os alimentos que lhe eram vedados pela lei tornariam – os impuros
(contaminados) espiritualmente, e não somente, cerimonialmente. O escritor dos
Hebreus rechaça esta idéia ao afirmar que “(...) o que vale é estar o coração confirmado com
graça e não com alimentos, pois nunca tiveram proveito os que com isto se
preocuparam” - (Hb. 13. 9). Neste
sentido, a orientação da lei parece ser na questão dietética e não
moral/espiritual, ou seja, os animais vedados não eram bons para a saúde dos
judeus e por isto, lhe foram proibidos.
Com estas observações em
mente, não fica difícil admitir que Jesus está deixando claro que não devemos
ocupar nosso tempo e nossa mente, priorizando as questões relacionadas com o
alimento material que nos sustenta. Portanto “o que entra em nossa boca”, não
nos tornará mais aprazíveis aos olhos de Deus (I Co. 8.8), como também, não nos
colocará na rota certa da vida.
Muito bem! Se a questão
mais importante não é o que “entra pela boca”, precisamos admitir, então, que o
mais importante é o que sai. Isto é o que Jesus quer esclarecer para os
confusos judeus de sua época, e que de certa maneira, ainda, parece confuso
para nossa geração. Observando bem, percebemos que nossas palavras revelam
nossa identidade. Nossa comida não revela quem somos na essência, mas na
aparência; já nossas palavras revelam muito da nossa natureza (origem social,
inteligência, caráter, emoção, sentimento etc).
Geralmente, o que sai de nossa boca é fruto de
uma reflexão e de uma escolha, como vislumbra Jesus em suas palavras: “Mas o que sai da boca vem
do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus
desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos,
blasfêmias. São estas as coisas que
contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina.” (Mateus 15:18-20
RA). O fato é, que seremos responsabilizados diante de Deus não pela comida que
comermos mas pelas palavras que proferirmos (Mt. 12. 36).
Por fim, podemos dizer,
que o que comemos não afeta a nossa vida essencialmente, mas o que falamos
afeta não somente a nossa vida, como também, a daqueles que estão ao nosso
redor. Isto é claro e patente quando lemos com algum critério escrituras como estas:
“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu
fruto.” (Provérbios 18:21 RA). “Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba
de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Ora, a
língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de
nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a
carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo
inferno.” (Tiago 3:5-6 RA)