Por que o nosso conhecimento é diferente do conhecimento de Deus?
Texto
temático: Isaías 55. 8
“Porque
os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os
meus caminhos, diz o SENHOR.”
Introdução: Vivemos num mundo que exige conhecimento. Nossa vida é uma
constante sucessão de descobertas. Em algum momento, acreditamos que
atingiremos um nível de conhecimento pleno. Mas, quanto mais vivemos, mais
sentimos que esta é uma missão impossível. As Escrituras Sagradas deixam claro
que nosso conhecimento não é um conhecimento perfeito e que, além disto, nosso
conhecimento é totalmente diferente do conhecimento de Deus. Vamos compreender,
hoje, porque nosso conhecimento é diferente do conhecimento divino:
1- Porque o nosso pensamento é de criatura e não de criador
·
As minhas
ideias, as minhas reflexões estão no campo das vivências de uma criatura. Não
tenho conhecimento experiencial antes, nem depois de mim. Logo o meu universo
para conhecer é extremamente limitado[1] - Jó.
38. 4;
·
Os meus
pensamentos, minha compreensão da vida é horizontal. Não consigo sair do mundo
e enxergá-lo, separado de mim – estou contido, por isto sou produto do mundo[2]
- Gn. 3. 19;
·
Não existe um
super- homem, como queria Nietzsche[3]. Existe
um humano mortal, sujeito às paixões e limitações da sua própria existência[4] - Salmo
39. 5[5];
·
Porque
nossa natureza pecaminosa não consegue auto-exame imparcial, nem é apta
enxergar com clareza os outros.[6] I
Sm. 16. 7;
2- Porque Deus nos conhece de uma maneira que ninguém conhece
·
O conhecimento
de Deus é movido pelo amor, não é conhecimento especulativo, crítico ou
investigativo – Ele nos conhece porque nos ama. Seu conhecimento é essencial e
relacional[7] –
Jr. 31. 13 – Ele nos amou, antes de sermos – No existencialismo Sartriano[8],
entende-se que o Ser se torna Ser, de fato, no existir (nas relações) e não na
sua essência. Diferentemente disto, Deus nos ama, antes da nossa existência.
Somos amados e conhecidos pelo que somos essencialmente, não pela nossa ação no
mundo;
·
Nossa
existência não é suficiente para nos explicar. Existem realidades psicológicas
e espirituais que transcendem nossa vida histórica e biológica – Daí, nossa
ignorância a respeito de muitos aspectos de nossa existência[9] -
Ec. 3. 11;
·
Nenhuma
filosofia esgota a complexidade do ser. Somos criados à imagem de Deus e isto
garante nossa vocação para realidades que transcendem a compreensão científica
e filosófica. Nem Sartre, nem Heidegger são competentes para dizer que o Ser se
reduz e se explica a partir de sua mera existência.[10]
·
Nossos
pensamentos nunca serão como os de Deus, porque Deus nos criou para a
transcendência, para a imortalidade, para a eternidade. Nossa realidade
biológica e histórica, nesse sentido, não nos possibilita um conhecimento
satisfatório. Nossas respostas estão em Deus...[11]
[1] “Onde estavas tu, quando eu lançava os
fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento.” (Jó 38:4 RA)
[2] “ No suor do rosto comerás o teu pão, até que
tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.”
(Gênesis 3:19 RA)
[3] “Não considero o ateísmo como resultado, menos ainda como
acontecimento: em mim decorre do instinto. Sou demasiado curioso, demasiado
problemático, demasiado insolente, para me contentar com uma resposta
grosseira. Deus é uma resposta grosseira, uma indelicadeza para conosco,
pensadores – no fundo, é mesmo apenas uma grosseira proibição: não deveis
pensar!” NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo. p. 25,
[4] Nossas paixões
nos impedem de leituras neutras. Nosso pensamento está contaminado pela nossa
humanidade. Ser humano é ser “problemático e insolente” (nas palavras de
Nietzsche) e incompetente na forma plena de pensar. Deus não proíbe o pensar,
pelo contrário, gostaria que pensássemos com mais isenção e profundidade...
[5] “Deste aos
meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida
é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade.”
Salmos 39:5
[6] “Porém
o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua
altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o
exterior, porém o SENHOR, o coração.” (1 Samuel 16:7 RA)
[7] “De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo:
Com amor eterno eu te amei; por isso, com
benignidade te atraí.” (Jeremias 31:3 RA)
[8] “O ser é o
fundamento sempre presente do existente, está nele em toda parte e em parte
alguma; não existe ser que seja ser de alguma maneira ou captado através desta
manifestação de ser que o manifesta e o encobre ao mesmo tempo.” SARTRE, Jean
Paul. O Ser e o nada, p. 35.
[9] “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo;
também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as
obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (Eclesiastes 3:11 RA)
[10] Já
o ser é a manifestação do ente no tempo, é a sua ação de existir no
tempo. Neste sentido, o ente é determinado pela sua existência, ou seja, pelo
seu ser. Daí decorre que “o ser é sempre o ser de um ente”. Heidegger, apud,
Limas, 2002, p. 43.
[11] “Em
Cristo todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento estão ocultos.” (Paráfrase de Colossenses 2:3 RA)