sexta-feira, 24 de maio de 2019




DA IMPOSSIBILIDADE DE CONHECER DEUS PARA DEPOIS CRER NELE.
Texto temático: João 6. 44.
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
O texto em epígrafe afirma que o homem não pode encontrar Deus. Deus o encontra. Vemos a experiência do encontro de Deus com a criatura ao longo das Escrituras e não o contrário. Deus encontrou Noé, Deus chamou Abraão, Deus se revelou a Moisés, Jesus se revelou e convidou os discípulos. Paulo foi encontrado por Deus no caminho de Damasco. É longa a lista.
A ideia do homem descobrir a pessoa de Deus, parece pretensiosa, sobretudo, porque não se chega ao conhecimento de Deus, senão a partir de Deus. É bem apropriada, neste sentido, a frase de Irineu (um dos pais da igreja): “Sem Deus não se pode conhecer a Deus”. Desta forma, a revelação inaugura o processo de conhecimento da pessoa de Deus. Sem a revelação não é possível conhecimento. Quando Jesus diz “ninguém pode vir a mim se o pai, que me enviou, não o trouxer”, ele está deixando claro que é impossível entrar num relacionamento com Deus, sem antes haver uma ação diretiva de Deus em trazer este homem para perto Dele.
Quando a teologia coloca Deus como objeto de pesquisa ela comete um erro, pois “Deus jamais é objeto”[1], em termos epistemológicos. Pois nas ciências o objeto de dada disciplina precisa ser abstraído, mensurado, quantificado, comparado. Neste caso, Deus não pode se submeter a este processo, pois Ele é transcendente ao tempo e ao espaço. Portanto, toda ideia de conhecer Deus a partir do homem se traduz num equívoco. O que parece razoável é conhecer Deus a partir do momento que ele se revela o homem e ilumina seu entendimento.
Outra questão, ainda mais intrigante, é que Deus começou este mundo a partir do nada[2]. Não havia uma matéria, uma coisa, um objeto por meio do qual Deus criou este mundo. Ele partiu do nada, logo pensar que alguma coisa, objeto ou criatura seja capaz de chegar ao conhecimento de Deus por si mesmo, é uma impossibilidade lógica. A criatura não abriga em si qualquer dispositivo científico que lhe possibilite conhecer Deus, pois ela não tem prévio conhecimento. Ela existe a partir de dado momento, ou seja, ela não é eterna. O temporal não pode vasculhar o eterno. O finito não pode esquadrinhar o infinito.
Não se trata de um certo tipo de agnosticismo, mas de hierarquização do relacionamento com Deus. O homem não conhece Deus para crer e se relacionar com ele, mas Deus se revela ao homem a fim de que este homem saiba quem é Deus e qual a sua vontade. Isto parece evidente na conversa de Deus com Arão e Miriã, descrito no livro de Êxodo.[3] Deus só pode ser conhecido até onde ele quer se revelar. Se o conhecimento de Deus partisse do homem, Deus poderia ser esmiuçado, esgotado e dissecado, mas não é assim que o Velho Testamento ensina[4].
Muito bem! Feitas estas considerações, parece que a teologia do Novo Testamento identifica-se mais com o a filosofia de Platão, uma vez que a filosofia Platônica valoriza mais o mundo supra-sensível (mundo das ideias), bem como, entende que existe uma vida superior ao mundo material. A ideia de um mundo transcendente, perfeito e imutável é proposta tanto pelo platonismo como pelo Cristianismo.



[1] TILLICK, Paul. História do Pensamento Cristão. 4 ed.São Paulo: Aste, 2007
[2] Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem – Hebreus 11. 3.
[3] Então, disse: Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos – Êxodo 13. 3.
[4] As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.


quinta-feira, 9 de maio de 2019



O dualismo cristão em face da cultura consumista da pós-modernidade.[1]
1 – Introdução:
Inicialmente, podemos dizer que as comunidades cristãs primitivas, que partilhavam de uma teologia mais baseada na oralidade e na experiência judaica do velho testamento, cultivavam uma vida bastante ascética e devotada. Vemos nisto o nascimento do dualismo cristão na igreja judaica do primeiro século. Já a igreja do segundo século é uma igreja gentia (não judaica) que passa a dispor de alguma literatura religiosa escrita, começando a discutir uma práxis religiosa baseada nos evangelhos e nas cartas paulinas. A necessidade de fazer frente às seitas filosóficas gregas, como o gnosticismo, obriga a igreja a repensar sua teologia e sua prática religiosa.

A partir do século IV depois de Cristo, em tempos de tolerância religiosa e de estabelecimento do Canôn do Novo Testamento, a igreja desenvolve uma teologia e uma eclesiologia mais elaborada e crítica em relação ao percurso da igreja ao longo dos séculos. Não obstante, é ainda, uma teologia que valoriza o ascetismo e o monasticismo. A mentalidade dualista, representada pela reclusão e devoção asceta, “se afastando da vida social para aprimorar a vida espiritual”[2], vai perdurar por toda a idade média. Neste sentido, “as ideias do filósofo Platão permeiam a mentalidade”[3] cristã. Muitos religiosos vão se afastar da vida social para se recolher a um mosteiro. Desta forma, permanece o pensamento de que o mundo material é mau e que o corpo é um inimigo da devoção espiritual.

No alvorecer da reforma protestante, o foco será o estudo das Escrituras como meio de devoção a Deus. A vida separada do mundo e alienada das realidades políticas e sociais é repensada. A maioria dos reformadores vai propor uma vida religiosa contextualizada à realidade material e cultural. Muitos cristãos, desde este período da história, argumentam que “quando se pratica uma vida religiosa baseada no ascetismo e no monasticismo não se vive uma vida saudável, pois o indivíduo renuncia aos planos naturais da vida”(...)”[4]. Outra crítica recorrente é que “o ascetismo leva o indivíduo ao isolamento das ideias, da cultura e até mesmo de avanços intelectuais”[5].

Em busca do seu espaço no mundo e de um retorno a uma vocação missionária, a igreja reformada vai privilegiar a aproximação da religião do sistema político e cultural, entendendo que “a igreja, nesse momento da história deveria influenciar o mundo, conquistar povos, ganhar cidades já que buscamos a transcendência”[6]. Entretanto, há quem atribua este arrefecimento na vida monástica e ascética ao desenfreado “consumismo presente na modernidade”[7], bem como, pela substituição da devoção pelo “trabalho e pelo lazer”[8].

Não obstante, a herança dualista e dicotômica (duas realidades em oposição, e duas realidades em composição) vai permanecer em alguns segmentos cristãos, especialmente nos grupos mais carismáticos. As igrejas pentecostais (início do século XX) vão representar bem este comportamento mais ascético e monástico, muito embora, até neste meio, observemos que há um “afastamento deste pensamento frente à vida e a realidade social”[9], mas precisamos admitir que “a herança dualista permanece”[10] em grupos mais fechados e fundamentalistas.

Esta herança dualista, manifesta através do comportamento monástico, pode apresentar novas roupagens na cristandade pós-moderna. Se a vida monástica da igreja primitiva e da idade média propunha um afastamento social e geográfico do mundo, podemos perceber em alguns segmentos neo-pentecostais uma busca de isolamento do fiel, “mesmo estando em grupos”[11], caracterizando um isolamento social/individual, mas não geográfico. Estes novos comportamentos parecem estar associados ao “padrão comportamental consumista”[12] da nossa pós-modernidade, onde o mercado de capital globalizado determina a vida social.




[1] LIMAS, José Roberto. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[2] ARAÚJO, Gilsiene. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[3] TAVARES, Cleriston Cleber. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[4] FOLGADO, Guilherme. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[5] DURÃES, Carlos. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[6] ALVIM, Ana Paula. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[7] PIRES, Roberto Azevedo. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[8] MONTEIRO, Sidney Ribeiro. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[9] MEIRA, Elaine. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[10] ARAÚJO, Claudinei. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[11] LEITE, Janete. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[12] LEITE, Iago. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.