TEONTOLOGIA

CURSO DE TEOLOGIA PRÓPRIA


O Estudo acerca da pessoa de Deus por mais que se apresente genérico não deve ser considerado subjetivo, pois, na sua proposta está o que há de mais significativo, nobre e objetivo na vida do homem, que é o conhecimento de Deus.

Não obstante as diversas correntes modernas, sobretudo, a partir do século XIX com a teologia liberal, considerar o estudo da pessoa de Deus um conhecimento filosófico – religioso inferior ao da ciência, acreditamos que o conhecimento acerca de Deus é mais objetivo e necessário que a investigação científica da vida.

Naturalmente, que não estamos afirmando com isto que a ciência não é importante ou que mesmo seja desnecessária, mas estamos asseverando que o ponto de partida para a compreensão da vida e do universo não é a ciência. A ciência trabalha com o que está criado e é observável, o conhecimento de Deus revela as realidades visíveis e invisíveis, o temporal e o eterno; o material e o espiritual.

Ninguém em são juízo iria afirmar que a humanidade se guia apenas pelas realidades materiais e visíveis. Todas as sociedades organizadas revelam um comportamento que incorpora elementos místicos e sobrenaturais, sendo que estes elementos moldam valores, crenças, políticas etc.

Analisando este fato, Berkhof na sua teologia sistemática, observa que as dogmáticas até o começo do século 19 começavam o estudo com a doutrina de Deus, mas sob a influência de Schleirmacher e outros teólogos liberais, o ponto de partida passou a ser a consciência religiosa do homem. Neste sentido, o primeiro objeto de pesquisa passou a ser a experiência religiosa do indivíduo, ou seja, um conhecimento que partia do homem (antropocêntrico).

Neste sentido temos a questionar que a teologia não pode ser um conhecimento que parta da investigação do homem para se conhecer a Deus. A teologia, obrigatoriamente, penso eu, deve começar pela revelação que Deus dá de si mesmo. A investigação científica deve, somente, corroborar a revelação que já temos de Deus.

Nesta proposta de estudo, estamos inaugurando nosso curso de Teologia Própria, com estas considerações iniciais.



II – UMA DEFINIÇÃO DE DEUS

Naturalmente que toda definição acerca de Deus não é completa, nem exaustiva, nem perfeita, mas baseado no que conhecemos das Escrituras, da experiência religiosa e da observação da vida.

Eis abaixo algumas definições:
“Deus é o Espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas têm sua fonte, sustento e fim” (Augustus Hopkins Strong);
“A fonte eterna de tudo o que é temporal” (Ebrard);
“O Espírito Infinito “(Kahnis);
“Um ser eterno, não causado, independente, necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma” (Jhon Howe);
“Um Espírito infinito, eterno, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade” (catecismo de Westminster);
“A primeira causa e o último fim de todas as coisas” (Andrew Fuller);
“Deus é espírito pessoal, perfeitamente bom, que em santo amor, cria, sustenta e governa tudo” (Langston)






III – NATUREZA DE DEUS

Podemos afirmar que Deus, como Divindade é único e como pessoa é trino. Neste sentido vamos tecer alguns comentários sobre a natureza de Deus, focando dois aspectos:


1- Unidade/Unicidade
Deus é único e uno, ou seja, é único como divindade e uno como substância. Deus é único e é indivisível conforme denúncia os textos abaixo: Dt. 6. 4, I Rs. 8. 60, I Co. 8. 6 e I Tm. 2. 5.
A unicidade de Deus deixa claro que não existe, de fato, outro Deus, mas sim aqueles que se passam por Deus, não sendo Deus essencialmente ( I Co. 8. 5). A unidade de Deus deixa claro, também, que ele não é subdividido em três deuses, mas a divindade subsiste em três pessoas – Fp. 2. 6 – II Co. 3. 17, Jo. 17. 3.


2- Trindade/Tri-unidade
Podemos definir trindade como a tríplice forma de Deus existir e tri-unidade como a tríplice forma de Deus agir. Na teologia sistemática de Strong (p. 532) encontramos um comentário bem técnico:
Na natureza de Deus, há três distinções eternas que se nos representam sob a figura de pessoas e essas três são iguais. Essa tripessoalidade de Deus é uma verdade exclusiva da revelação. Faz – se claramente, apesar de não formalmente conhecida no Novo Testamento e podem achar-se indicações dela no Antigo Testamento.
A doutrina da Trindade pode expressar-se nas seguintes afirmações:
1- Há na Escritura três que são reconhecidos como Deus;
2 – Esses três são descritos de tal modo que somos compelidos a concebê-los como pessoas distintas;
3- Essa tripessoalidade da natureza divina não é simplesmente econômica e temporal, mas imanente e eterna;
4- Essa tripessoalidade não é triteismo; pois enquanto haja três pessoas, há apenas uma essência;
5- As três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais (...).

Encontramos fartamente nas Escrituras indicações da trindade, embora, nem sempre, focalizando simultaneamente as três pessoas, mas pontuando cada uma delas de maneira que sua pessoalidade seja destacada e reconhecida como Deus. Mas existem textos que apontam a presença simultânea das três pessoas, embora o foco esteja em uma delas, como no caso do batismo de Jesus (Mt. 3. 16, 17).

A doutrina da Trindade, embora, oficialmente estabelecida e reconhecida pela igreja no século IV, já existia na praxis da igreja. Não somente isto, podemos perceber a presença da trindade nos escritos do V. T., muito embora, a revelação que os Judeus tinham de Deus não era suficiente para enfatizar este aspecto da natureza de Deus.


2.1 – Revelação da Trindade no Velho Testamento
Na pena de Wayne Gruden (Teologia Sistemática, p. 166) encontramos um interessante comentário sobre a revelação que encontramos da trindade no V. T.:
“Às vezes se pensa que a doutrina da trindade se encontra somente no Novo Testamento, e não no antigo. Se Deus existe eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações disso no antigo testamento. Embora a doutrina da trindade não se ache explicitamente no antigo testamento, varias passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa.”

Aproveitando a observação de Gruden podemos alistar alguns textos que indicam a  presença da trindade no V. T.
a) Gn. 1. 26 – Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança...
b) Gn. 3. 22 – Eis que o homem se tornou como um de nós ....
c) Gn. 11. 7 – Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem


2.2 – Revelação da Trindade no Novo Testamento

No novo testamento a doutrina da trindade é mais facilmente percebida. Não somente a abundante manifestação do Filho como Deus na sua encarnação, bem como, o efetivo ministério do Espírito Santo na concepção de Jesus, no batismo, na ressurreição. Além disto, a igreja enfatiza, na sua missão, a obra redentora do Filho (Jesus), a santificação do Espírito no selo da salvação e na distribuição dos dons, e por fim, o amor e a graça do pai revelados a todos os homens (Jo. 3. 16).

Wayne Gruden pormenoriza a revelação desta doutrina nos seguintes moldes:
“Quando começa o novo testamento, entramos na história da vinda do Filho de Deus à terra. Era de esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus, e de fato é isso que encontramos. Antes de analisarmos a questão com pormenores, podemos simplesmente listar várias passagens em que as três pessoas da trindade são mencionadas juntas.
Quando do batismo de Jesus, “eis  que se lhe abriram os céus e, viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, que dizia: Este é meu filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3. 16, 17). Aqui temos os três membros da trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala de lá do céu:Deus Filho é batizado e depois ouve a voz de Deus Pai vinda do céu; e o Espírito Santo desce do céu para pousar sobre Jesus e dar – lhe poder para o seu ministério.
Ao final de seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem ir e fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt. 28. 19).”
Textos que autenticam a Trindade no Novo Testamento:
a) Mt. 3. 16, 17
b) Mt. 28. 19
c)I Co. 12. 4 – 6
d) II Co. 13. 13
e) Ef. 4. 4 - 6
f) Jd. 20, 21

Podemos resumir assim o ensino Bíblico da Trindade: Deus é três pessoas, sendo cada pessoa plenamente Deus, deixando claro, que existe somente um Deus.

III – O CONHECIMENTO DE DEUS – A COGNOSCIBILIDADE DE DEUS

Este é um assunto antigo, mas, recorrente, uma indagação primeva mas também um debate moderno. Nada é mais interessante, urgente e importante do que o conhecimento de Deus, como já nos preveniu Jesus: Errais não conhecendo as Escrituras (...) - Mt. 22. 29, que é a fonte permanente e segura da revelação de Deus.

Muitos homens do passado e do presente levantaram a questão da impossibilidade de se conhecer a Deus, dizendo que Deus não é cognoscível (passível de ser conhecido), devido ao fato de não ser possível de ser provado a sua existência.

Neste sentido, temos muito o que discordar pois temos informações amplas nas escrituras, na vida, na criação e na história sobre a possibilidade real de se conhecer a Deus, como bem nos informa o apóstolo Paulo na carta aos Romanos:
(...) porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis (Rm. 1. 19,20).

A nossa geração talvez seja a menos preparada para enfrentar este debate com agnósticos, ateus e anarquistas, não obstante, a fartura de materiais de pesquisa que dispõe o cristianismo moderno. Entretanto, os pais da igreja foram grandes apologetas da fé em dias que a literatura cristã era escassa e limitada. Foram brilhantes e obtiveram sucesso na batalha pela fé, cujo legado desfrutamos presentemente.

Penso que, neste momento, em que muitas nações adotam uma posição laica/secular e, até, atéia, com relação a religião e ao conhecimento de Deus, cabe a igreja atual ter conhecimentos apropriados acerca de Deus.

Aproveitamos o presente esboço para trazermos a memória  a influência de teólogos que foram corajosos na defesa da fé ortodoxa, como é o caso de Charles Hodge (século XIX) na sua dogmática (Teologia Sistemática, p. 252, 253), cuja impressão sobre o referido assunto, cito:
(...) A clara doutrina das Escrituras é que Deus pode ser conhecido. Nosso Senhor ensina que a vida eterna consiste no conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, a quem ele enviou. O salmista diz:” conhecido é Deus em Judá” (Sl. 76.1). Isaías prediz que “ a terra se encherá do conhecimento do Senhor” (Isaías11. 9). Paulo diz que até mesmo os pagãos conheceram a Deus, mas não quiseram reter esse conhecimento (Rm. 1. 19, 20, 21, 28). (...) Entretanto, é importante entender distintamente o que se pretende quando se diz que Deus pode ser conhecido (...). Quando se diz que Deus pode ser conhecido, não se pretende dizer que ele possa ser compreendido. Compreender é ter um completo e exaustivo conhecimento de um objeto. É entender sua natureza e suas relações. (...) Está incluso no que foi dito que nosso conhecimento de Deus é parcial e inadequado. Há infinitamente mais em Deus do que podemos saber; e o que conhecemos , conhecemos imperfeitamente.


Evidente que a impossibilidade de conhecer Deus, plenamente, não anula o fato de que podemos conhecer a Deus de forma suficiente. Pensamos que o que de Deus precisamos conhecer é revelado em Jesus e nas Escrituras. A limitação do conhecer está em nós, não na possibilidade de Deus se revelar. Portanto, a orientação bíblica é crescer na graça e no conhecimento (II Pd. 3. 18.). Portanto, podemos fazer coro com Berkhof na sua máxima: O Deus perfeitamente cognoscível, embora incompreensível (Teologia Sistemática, p. 252, 253)



Esboço de Prova de Teologia Própria -                                                                                 

Questões:

1- Dê uma definição para a pessoa de Deus.



2- Por que a doutrina de Deus deve preceder os demais temas da teologia sistemática?



3- Quanto á natureza de Deus, diferencie unidade de unicidade?



4- Fale sobre a natureza trina de Deus (Trindade). Cite textos bíblicos que afirmam sua natureza trina.



5- O que quer dizer quando afirmamos que Deus é cognoscível mas não é compreensível?



6- Cite os atributos incomunicáveis de Deus e discorra sobre três deles.




7- Cite 05 argumentos que provam a existência de Deus.



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