quarta-feira, 28 de julho de 2010

Repensando a caminhada

ESPIRITUALIDADE DE ORALIDADE E ATITUDES DESPROPOSITADAS


“ Não é fato que agora mesmo tu me invocas, dizendo: Pai meu, tu és o amigo da minha mocidade? Conservarás para sempre a tua ira? Ou a reterás até ao fim? Sim, assim me falas, mas cometes maldade a mais não poder.” (Jeremias 3:4-5 RA).

Cultivamos uma espiritualidade de oralidade, de palavras bonitas e de expressões cultuais estereotipadas. Não há muito espaço para a reflexão e a ponderação. Somos rápidos em falar, preguiçosos em pensar.

Desenvolvemos uma espiritualidade impactante, arrebatadora e improvisadora. Não pensamos na construção que as nossas palavras propuseram na sua confissão verbalizada. Somos praticantes do verbo que somente informa, mas não da palavra que vive e transforma. O logos que tanto recitamos, cantamos e ministramos não passa de jogo de palavras, mas o Logos da Bíblia (o Verbo Vivo), cria, sustenta e governa tudo com o seu poder (Gn 1. 3, Jo. 1. 3, Hb.1. 3).

Nossa espiritualidade oral é pouco construtiva, pois como a nação de Israel nos dias de Jeremias, falamos muito, pensamos pouco, e não vivenciamos quase nada. Dizemos: Pai meu! Mas nosso coração não sabe viver a dependência de Filho.

Este “modus vivendi” (modo de viver) da igreja se torna mais evidente quando avaliamos o que temos de mais visível na caminhada da igreja atual. E o que temos: música de primeira qualidade, pregadores brilhantes, Shows grandiosos. Quando o que deveríamos ter era: Pregação Contundente, Missionários nos campos, Comunhão Congregacional.

Novamente a espiritualidade da descendência de Abraão nos dias de Jeremias nos mostra como podemos ser tão religiosos e tão ímpios. A maneira como a nação de Israel ora neste texto deixa claro de que eles tinham vasta informação sobre a natureza de Deus, uma vez que o chamavam de “Pai”, o que é pouco comum no início da caminhada da nação. Além do mais eles declaram que Deus é um Deus que não tem prazer em exercer sua ira. Eles sabem, também, que Deus é misericordioso e que não passa de um momento a sua ira (Sl. 30.5).

Na verdade o que Israel tenta nesta oração é controlar as ações de Deus e, assim, poder continuar no pecado sem sofrer as consequências da sua ação.

Não é estranho que nossa vida cristã moderna também busque estabelecer uma espiritualidade fundada na oralidade e na adoração despropositada. Podemos cantar: abro mão dos meus sonhos, abro mão dos meus desejos, abro mão da minha vida..., sem nos dar conta da extensão e da gravidade de nossa declaração e, para em seguida “cometer maldades a mais não poder.”

A advertência de Paulo, se torna por demais pertinente para a nossa religiosidade de palavras combinadas:De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos (Rm. 6. 2)?

Artigo publicado em 28/07/2010 – José Roberto