quarta-feira, 15 de abril de 2015


“Lições sobre o que é verdadeiramente importante.”

Mateus 15. 10, 11
“E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.” (Mateus 15. 10, 11)

“Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e,
 depois, é lançado em lugar escuso?” (Mateus 15. 17)


É notável como nossas atitudes deixam claro que nos movemos pelo que é urgente e por aquilo que é evidente. Nossa preocupação é muito maior com o que está diante dos nossos olhos, do que com o que está dentro de nosso coração. O texto acima, que mostra a observação de Jesus quanto ao que de fato pode nos contaminar, nos remete a consideração da seguinte questão: é importante o que está de fora e que entra para dentro de nós (alimento), ou o que está dentro de nós (pensamentos, emoções), já estabelecido, e que jorra para fora de nós?
Analisando bem, o que entra em nossa boca, nem sempre é bem conhecido. Sabemos que o alimento é retirado da terra, transportado, manuseado, ou seja, não temos domínio sobre todo o processo até ele chegar a minha mesa. Paulo ensina aos cristãos de Corinto que “devemos comer de tudo que se vende no mercado, sem nada perguntarmos”(1 Co. 10. 25, 26). Historicamente, temos conhecimento que o homem se organiza em sociedade, somente, a partir do momento que é capaz de cultivar espécies vegetais para alimentação (em torno de 10 mil anos atrás). Por isto podemos considerar que a busca, do homem, mais básica, é a do alimento. Mas, para nós, cristãos, esta não deve ser a busca mais importante, porque “não devemos trabalhar pelo pão perecível, mas pelo que permanece para sempre” ( Jo. 6. 27).
Uma questão a ser enfrentada, e que Jesus está colocando ela de maneira clara, nesta passagem, a partir do versículo 17, é a de que o alimento não nos influencia por muito tempo, pois logo é lançado fora. A crença de que o alimento é determinante na formação do caráter, era levada ao extremo pelos povos antropófagos, que acreditavam que ao alimentarem-se da carne de um guerreiro virtuoso, estas características físicas, mentais e emocionais lhe eram transmitidas.
A religião judaica, de alguma forma, acreditava também que os alimentos que lhe eram vedados pela lei tornariam – os impuros (contaminados) espiritualmente, e não somente, cerimonialmente. O escritor dos Hebreus rechaça esta idéia ao afirmar que “(...) o que vale é estar o coração confirmado com graça e não com alimentos, pois nunca tiveram proveito os que com isto se preocuparam” -  (Hb. 13. 9). Neste sentido, a orientação da lei parece ser na questão dietética e não moral/espiritual, ou seja, os animais vedados não eram bons para a saúde dos judeus e por isto, lhe foram proibidos.

Com estas observações em mente, não fica difícil admitir que Jesus está deixando claro que não devemos ocupar nosso tempo e nossa mente, priorizando as questões relacionadas com o alimento material que nos sustenta. Portanto “o que entra em nossa boca”, não nos tornará mais aprazíveis aos olhos de Deus (I Co. 8.8), como também, não nos colocará na rota certa da vida.

Muito bem! Se a questão mais importante não é o que “entra pela boca”, precisamos admitir, então, que o mais importante é o que sai. Isto é o que Jesus quer esclarecer para os confusos judeus de sua época, e que de certa maneira, ainda, parece confuso para nossa geração. Observando bem, percebemos que nossas palavras revelam nossa identidade. Nossa comida não revela quem somos na essência, mas na aparência; já nossas palavras revelam muito da nossa natureza (origem social, inteligência, caráter, emoção, sentimento etc).


Geralmente, o que sai de nossa boca é fruto de uma reflexão e de uma escolha, como vislumbra Jesus em suas palavras: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.  São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina.” (Mateus 15:18-20 RA). O fato é, que seremos responsabilizados diante de Deus não pela comida que comermos mas pelas palavras que proferirmos (Mt. 12. 36).

Por fim, podemos dizer, que o que comemos não afeta a nossa vida essencialmente, mas o que falamos afeta não somente a nossa vida, como também, a daqueles que estão ao nosso redor. Isto é claro e patente quando lemos com algum critério escrituras como estas: “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.” (Provérbios 18:21 RA). “Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.” (Tiago 3:5-6 RA)