segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 

IMPACTO DA AGRICULTURA MECANIZADA NO MUNICÍPIO DE BOCAIUVA – MG

José Roberto Limas da Silva[1]

Fonte: https://reporterbrasil.org.br/2018/10

O município de Bocaiuva está localizado no norte de Minas, em direção ao Vale do Jequitinhonha. Encontra-se a 686 metros de altitude e tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude 17˚ 6’ 55” Sul e Longitude 43˚ 49’ 16” Oeste. A vegetação predominante é de cerrado, com terras mais ácidas e regime de chuva de baixa pluviosidade e concentração das chuvas no período de novembro a fevereiro. O município de Bocaiuva tem pouca tradição na agricultura, senão naquela de subsistência, prevalecendo a pecuária de corte.

Considerando a proposta desse texto, que é demonstrar o impacto da agricultura mecanizada em nosso município, antes de mais nada, precisamos dizer que não há em nosso município lastros desta moderna agricultura no que concerne ao cultivo de espécies agrícolas tradicionais (como o trigo, a soja, o milho, arroz etc), outrossim, temos, recentemente, na silvicultura (cultivo de espécies florestais) um fator marcante na economia de nosso município.

A implantação de florestas de eucalipto em nossa região se tornou a legítima sucessora das práticas agro-pastoris de subsistência de nosso meio rural. Ainda, que não consideremos a silvicultura como prática, eminentemente, agrícola, seu perfil espacial e social preencheu esta condição, sobretudo no abarcamento da mão – de – obra do meio rural e como alternativa comercial para terras de pouco valor para a agricultura.

Somente, a título de informação, temos atualmente no norte e vale do Jequitinhonha uma área de 4.074 km2 de eucalipto plantado. Já ocupou área maior na década de oitenta, atingindo mais de 6.000 km2. Um fato digno de nota é que no período inaugural do cultivo do eucalipto, somente, em nosso município e entorno, absorveu uma mão – de – obra superior a 2000 pessoas. O autor deste artigo, inclusive trabalhou numa destas empresas na década de oitenta em áreas de plantio, irrigação e corte do eucalipto, e pode testemunhar que a mão – de – obra, majoritariamente, absorvida era braçal.

Bom! Depois destas breves considerações, chamo a atenção para o fato de que estas florestadoras e reflorestadoras estão, atualmente, na vanguarda da agricultura mecanizada e tecnificada, possuindo o que há de mais moderno no preparo do solo, no controle de pragas/ervas daninhas e na colheita (corte) do eucalipto. Na minha região a silvicultura predominante é a da monocultura do eucalipto, com algumas minúsculas “manchas” de pinus, sendo que “a produção dessas regiões visa abastecer, principalmente, as siderúgicas da Região Central do estado” (fonte: http://www.portalseer.ufba.br/ index.php/geotextos/article/viewFile /5931/4645).

Recentemente, estas empresas de reflorestamento (Plantar, V&M Florestal, Florestaminas, Acesita, Refloralje etc) implementaram a mecanização na produção do eucalipto. Sendo que o plantio, a capina, o combate às pragas, o corte e o transporte estão quase que totalmente mecanizado. Uma das etapas que mais consumia mão – de – obra era o corte e beneficiamento do eucalipto. Para se ter uma ideia do enxugamento do trabalho manual, existe, hoje, uma máquina que derruba, desfolha, descasca, pica, empraça e carrega os caminhões. Isto era trabalho para centenas de homens. Esta situação é tão grave que, nas fazendas de eucalipto, da minha região, que empregavam em torno de 2.000 (duas mil) pessoas, hoje possui um contingente de mais ou menos 200 (duzentas) pessoas trabalhando.

Uma questão que deve ser observada é que estas empresas (do ramo da silvicultura) operam no mercado de forma semelhante às grandes empresas do agro-negócio, que produzem para atender, precipuamente, às demandas da indústria e do mercado. Os produtos do agro – negócio brasileiro, exportados na forma de comodities (produtos básicos in natura), que são mercadorias essenciais para o consumo humano, como cereais, frutas, carnes etc guardam grande semelhança com a exploração da monocultura do eucalipto norte mineiro. Este último visa abastecer a indústria siderúrgica mineira que tem como carro – chefe a exportação do ferro e do aço para o mercado estrangeiro (Estados Unidos, China, Oriente Médio). A crítica conhecida à Revolução Verde, como a perpetrada por MOREIRA (críticas ambientalistas à revolução verde) se desenvolve em três frentes:

a)    Crítica técnica: Diz respeito ao manuseio nada escrupuloso do solo, sobretudo com uso de forças agressoras ao processo natural e gradual de formação dos solos. Isto sem falar pela ação poluente e destruidora de micro-organismos do solo, através do uso de diversos agro-tóxicos (herbicidas, adubos químicos, inseticidas etc);

b)    Crítica Social: Está relacionada com a priorização  de um segmento social, que passa ter prioridade no acesso ao crédito, que é o caso das grandes empresas e corporações, algumas de origem estrangeira, em prejuízo do pequeno agricultor ou do assentado. Não somente isto, o modelo de agricultura voltado para a indústria e o mercado não contempla mercados locais, realidades sociais de populações minoritárias que estão ou estavam em estreita relação histórica, cultural e econômica com aquele ambiente. Um dos fatores mais nocivos é a elevada concentração de terras no cultivo de uma mono-cultura, por exemplo;

c)    Crítica Econômica: O modelo do agro-negócio, especialmente, reflete bem esta forma concentradora de renda na mão dos grandes empreendedores. As perdas são imensas, pois, este negócio depende de pouca mão – de – obra humana, diminui o acesso às terras agricultáveis, gera evasão de rendas com a aquisição de insumos caríssimos importados do exterior.

Por fim, analisando, a realidade do meu município, endosso e estendo às críticas à agricultura modernizada/tecnificada, sobretudo, tendo em vista o advento da Revolução Verde, e mormente, considerando o agro-negócio brasileiro. Por que faço isto? Observando a vida do nosso povo sertanejo e a paisagem rural, ao meu redor, percebo prejuízos irremissíveis, e para mim, impossíveis de serem compensados. Passo a alistá-los e eles expressam a minha conclusiva opinião sobre o tema proposto:

A)   A silvicultura retirou o pequeno agricultor de seu cultivo de subsistência e depois o lançou na rua da amargura do desemprego;

B)   A silvicultura, perpetrada pelas florestadoras, comprou a preço de banana as terras dos pequenos agricultores e empregou seus filhos á preço de nada;

C)   O eucalipto roubou a diversidade do cerrado e arrasou o seu solo, sugando a sua limitada fertilidade. Quem anda por estas bandas do norte, em um talhão que já foi plantado eucalipto,sabe que ali só nasce angiquinho (planta herbácea espinhenta, sem utilidade);

D)   O eucalipto bebeu as águas das nascentes, invadiu as margens dos rios e secou os brejos;

E)   O eucalipto consumiu a água e a matéria orgânica do cerrado e espantou as milhares de espécies animais que se abrigavam e alimentavam de sua variada flora, especialmente, as que frutificavam como o pequi, o murici, a caigaita, o araçá, o ananás etc;

F)   O pequeno agricultor, agora, sem terra e sem trabalho vai perambular pelos butecos da cidade, a espera de outra reflorestadora se instalar no que sobrou do cerrado.

 

Até aqui, minhas impressões!



[1] Geografo UFMG e Graduando em Filosofia/Uninter.