ECLESIOLOGIA




ECLESIOLOGIA – DOUTRINA DA IGREJA
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela ( Mt. 16. 18)”.
José Roberto Limas da Silva[1]
A primeira referência feita à palavra “igreja” acontece na passagem em epígrafe. O referido texto inaugura a dispensação da igreja no Novo Testamento e é o marco inaugural (teórico) da origem da igreja, que se estabelece de maneira prática a partir de Pentecostes. Nenhuma estrutura social é tão questionada quanto à igreja. Amada por uns, perseguida por outros, desprezada por muitos, a igreja deixou as suas marcas ao longo dos séculos.
A trajetória da igreja fornece muitos elementos históricos e sociológicos para a compreensão do mundo, de tal forma, que sem a sua presença a história não seria completa. É fato de comum acordo que a história da igreja é conhecida de todas as pessoas, pelo menos na sua estrutura institucional. Entretanto, queremos nos deter nos aspectos teológicos e doutrinários da organização chamada igreja. A Eclesiologia é a disciplina que cuida de estudar a doutrina da igreja e esta será o objeto de nossos estudos no presente módulo.
Percebemos nas teologias sistemáticas um esforço muito grande dos teólogos em caracterizar e tornar apetecível o conhecimento da origem, natureza, formação e governo da igreja, mas no contexto congregacional não se percebe tal interesse por parte de líderes e cristãos em geral. A responsabilização dos líderes da igreja de Jesus em face da sua posição de autoridade no mundo (poder sobre as portas do inferno) parece não ter sido bem considerada. A igreja é a única estrutura que busca dar visibilidade ao reino de Deus, logo, sua manifestação ao mundo é de grande repercussão.
A doutrina da igreja foi matéria de extensa discussão no ambiente da igreja dos primeiros séculos. A igreja, de então, buscava na experiência apostólica, bem como no ministério dos pais da igreja uma forma de preservar sua identidade e unidade doutrinária. A idéia de igreja cristã era mais comprometedora e universal. Neste sentido cada crente deveria trabalhar pelo progresso de uma igreja única, a igreja de Cristo no mundo. Neste sentido, a liderança e membros da igreja cristã, em todas as épocas, devem estar atentos ao fato dela ser a manifestação visível do corpo de Cristo na terra. O sucesso da obra missionária depende, efetivamente, da forma de que o evangelho é testemunhado pela igreja (I Co. 10. 32).

1-    DEFINIÇÃO E ORIGEM DA IGREJA
O vocábulo igreja, no novo testamento, tem na palavra grega ekklesia (ekklesia) a sua origem. A palavra ekklesia (pronúncia – se ecléssia) e é composta de dois vocábulos: ek (preposição que significa externar, de dentro para fora) e Kaleo (verbo que significa chamar). O uso da palavra ekklesia no mundo grego está ligado à convocação dos cidadãos gregos a saírem de suas casas para comparecerem a uma assembléia pública na praça ou mercado (ágora). Um importante registro do século IV a. C está na obra de Aristóteles:
Em cada Pritania a Eclésia se reúne para uma sessão plenária, em que deve ser votado qual dos ocupantes de cargos desempenhou melhor o seu dever; há também discussões sober o suprimento de grãos e a segurança da Ática.[2]
O uso cristão da palavra ekklesia tem como sentido mais usual as seguintes situações: assembléia de cristãos reunidos com o fim de adoração; reunião dos cristãos de todas as épocas; grupo de cristãos de determinada região; pessoas regeneradas pelo Espírito Santo que vivem em comunhão com Deus etc. Encontramos a palavra Ekklesia na Bíblia, dentro de um contexto secular, significando assembléia com fins comunitários e políticos, como nas passagens seguintes: Atos 19. 32, 39, 40.
(...) Uns, pois, gritavam de uma forma; outros, de outra; porque a assembléia caíra em confusão. E, na sua maior parte, nem sabiam por que motivo estavam reunidos. (...) Mas, se alguma outra coisa pleiteais, será decidida em assembléia regular. (...) E, havendo dito isto, dissolveu a assembléia.[3]
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Portanto, a palavra ekklesia não é uma palavra criada por Jesus, ou mesmo, uma palavra sagrada ou de origem judaica. Falando em judaísmo, encontramos no velho testamento duas palavras usadas para a igreja vétero-testamentária: kahal e Edhah, sendo a primeira de cunho mais teológico e religioso, significando quase sempre chamar, reunir em certo local. As duas palavras hebraicas são traduzidas na septuaginta (tradução grega do V. T) tanto por Sinagoge como por ekklesia.
É digno de nota que Jesus não tenha adotado o nome de sinagoga para a sua igreja, mas ekklesia. Certamente, que o nome sinagoga, tinha um forte elemento da doutrina judaica e farisaica e, por isto, Jesus não queria associar a sua mensagem ao legalismo judaico. A palavra eklesia já era conhecida dos judeus, não somente a palavra, mas o significado da mesma, tendo em vista que o termo é usado em Dt. 23.2, I Cr. 29. 20, Ne. 8. 17 na tradução dos setenta (septuaginta). Certamente, que este foi um dos motivos porque Jesus usou Ekklesia em vez de sinagoge.

2-    CARACTERÍSTICAS DA IGREJA
“ para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” (1 Timóteo 3:15 RA)

A caracterização da igreja não é um assunto simples, uma vez que a mesma manifesta características temporais e visíveis, bem como, eternas e invisíveis. A igreja de Jesus Cristo, entretanto, demonstra aspectos que não encontramos em nenhuma outra instituição, tendo em vista que sua estrutura é dinâmica e viva. A igreja, portanto, apresenta atributos, que lhe são próprios e que nenhuma outra organização arroga para si tais atributos. Analisaremos os mais conhecidos e perceptíveis:
2.    1 A igreja é Una.
A igreja de Jesus, na sua concepção e natureza deve ser una, ou seja, ela existe e trabalha em unidade (Ef. 4. 3 – 6). A unidade não deve ser vista como fruto de esforços organizacionais para mantê-la unida, mas sim, como uma obra do Espírito Santo no seio da igreja. A base desta unidade é o fato dela ser o corpo de Cristo, sendo ainda dirigida pelo cabeça, que é Cristo. Berkhof (2009) afirma esta unidade em termos mais místicos do que visíveis:
(...) A unidade da igreja não é primariamente de caráter externo, mas, sim, de caráter interno e espiritual. É a unidade do corpo místico de Jesus Cristo, que é também o Rei da Igreja, e é vivificado por um só Espírito, o Espírito de Cristo. Esta unidade implica que todos os que pertencem á Igreja participam da mesma fé, são solidamente interligados pelo comum laço do amor, e têm a mesma perspectiva gloriosa do futuro (...).[4]
A igreja cristã não existe á margem da unidade, ela se assenta sobre as bases da unidade e não pode coexistir com divisões e partidarismos, como foi notado na igreja de Corinto: “Acaso, Cristo está dividido” (I Co. 1. 13)? Embora a ênfase de unidade recaia sobre a igreja invisível, não devemos ignorar que a igreja visível, também, vive e sobrevive na unidade de seus membros. Não havendo justa cooperação de cada membro, todo o corpo perece (I Co. 12. 25, 26).
Por fim, ainda falando da unidade da igreja, é digno de nota que os católicos romanos, entendem a unidade da igreja, como um elemento distintivo das outras igrejas, considerando – a como única igreja. Ser uma neste sentido, representa além de unidade, significa, também, unicidade e, naturalmente, os protestantes discordam frontalmente desta idéia.

2.    2 - A igreja é Santa -
A igreja de Jesus é composta por santos, logo ela é santa (I Co. 1. 2), entretanto, a compreensão desta verdade nem sempre é bem aceita. Ao longo da história cristã, houve sempre tentativas de tornar a igreja mais santa e isto redundou em grandes divisões. A igreja é santa na sua posição de corpo de Cristo, uma vez que ela foi separada do resto do mundo para servir a Deus, sendo que Jesus morreu por ela purificando – a de todo pecado, sendo ainda a igreja santificada pela presença do Espírito Santo.
Nesta questão essencial ou posicional a igreja não pode se tornar mais santa. A santidade que deve ser perseguida e buscada é a santidade pessoal, no sentido moral (I Pd. 1. 16, Rm. 6. 19). A igreja, enquanto corpo de Cristo, não pode ser mais santa, mas cada crente, individualmente, deve buscar a santidade. A idéia de que é preciso purificar a instituição igreja é sempre perigosa e geradora de conflitos. GONZALEZ E PERES (2008) percebem exatamente esta situação em comentário intitulado “criar uma igreja mais santa”:
O modo no qual alguns cristãos têm tentado responder a essa realidade é afastar – se da Igreja que lhes parece demasiadamente pecadora, com o fim de criar outra que se ajuste melhor às imagens bíblicas do que a Igreja deve ser. É assim que cada ano surge dezenas de denominações novas, nascidas do desejo de deixar para trás o que se considera ser a pecaminosidade das que já existem.[5]
Esta solução encontrada para criar uma igreja mais santa parece carregada de “piedade”, mas a realidade tem sido sempre diferente desta. A igreja tende a reproduzir os mesmos pecados dos irmãos do passado, a mesma natureza pecaminosa atinge a todos os seres humanos e, portanto, não é possível fazer uma limpeza definitiva na igreja. Isto gera um ciclo vicioso na igreja que vai sempre se dividindo e fragmentando em busca de tal santidade. Gonzales e Peres arrematam o assunto assim:
A primeira delas é o fato empírico do que pronta a nova Igreja, fundada sobre as exigências da santidade, não se tornou suficientemente santa para alguns, que se sentem então chamados à abandoná-la, de modo que o ciclo continua, e as divisões se multiplicam perpetuamente.[6]
Portanto, o chamado à santidade moral parece remontar a experiência individual, bastando para isto vermos a história dos heróis da fé no passado, como Elias no reino perverso e idólatra de Acabe e Jezabel, ou o chamado de Isaías do meio de um povo de impuros lábios ou o achado profético de João Batista no meio de uma religião legalizante e hipócrita.  A Santidade como aperfeiçoamento moral está sempre ligado á relacionamento com Deus, ou seja, “o que faz com que algo seja ‘santo’ é a presença de Deus – mais especificamente, do Espírito de Deus, que por isso se chama Santo”.[7]

2. 3 - A Igreja é Católica
A igreja é católica no sentido de abarcar a totalidade de todos os crentes de todas as épocas. Sua catolicidade está associada ao fato da igreja de Cristo ser universal, tendo cristãos de todas as raças, línguas e nações. A denominação católica romana pretende com este título afirmar a sua condição de igreja universal e única de Deus na terra, sendo assim, quem não é católico romano está fora da igreja de Jesus. Este é um grave erro porque a catolicidade da igreja não está ligado à instituição, mas a igreja invisível de Cristo. BERKHOF salienta este ponto em moldes esclarecedores:
Os protestantes insistem em que a Igreja invisível é primordialmente a real Igreja católica, porque inclui todos os crentes da terra, de toda e qualquer época particular, sem nenhuma exceção; porque, consequentemente, ela também tem os seus membros entre todas as nações evangelizada do mundo.[8]
Podemos afirmar também a catolicidade da igreja visível que se reúne e adora a Cristo em todo o mundo. Não podemos é institucionalizar a catolicidade, que é na verdade, a condição de ser a igreja que contém a totalidade dos cristãos do mundo inteiro e isto não é patrimônio da igreja católica, nem dos protestantes. Outra crítica que se pode tecer ao pensamento da igreja romana é que se ela é igreja católica apostólica romana, ela não pode ser católica (universal), porque é romana (local).

2.    4 - A Igreja é Apostólica –
A Igreja de Cristo recebeu através dos seus apóstolos a doutrina que foi aprendida do próprio Cristo e, por isto, a igreja está firmada sobre o fundamento dos apóstolos (Ef. 2. 20). Esta é a forma correta e bíblica de se entender a apostolocidade da igreja e não na idéia de perpetuação da apostolocidade na direção da igreja como crêem os católicos romanos. Esta compreensão afirma que a “apostolocidade da Igreja é sustentar que seus líderes são sucessores diretos dos apóstolos”.[9]
Sabemos que a transmissão desta apostolocidade nunca foi pretendida por Jesus, haja visto, que já nos dias de Pedro, a igreja de Jerusalém desfrutava da liderança de Tiago, que se tornou uma liderança da igreja, com o apóstolo Pedro atuante ainda no ministério (At. 21. 18, 19), mas não como líder maior da igreja de Jerusalém.
A igreja é apostólica porque observa a doutrina dos apóstolos e crê da mesma forma que os nossos irmãos do passado (At. 2. 42). O apóstolo no contexto do novo testamento é aquele que funda igrejas e doutrina – as, portanto, o apostolado está ligado ao estabelecimento da igreja.
O perigo de uma igreja que se afirma apostólica no sentido de sua liderança atual, é que seu líder ganha o status de sucessor dos apóstolos, e, portanto, apto para criar doutrinas no presente, pois esta igreja está edificada no fundamento dos apóstolos. A igreja católica chega ao absurdo de considerar o papa, considerado o sumo apóstolo, infalível no seu doutrinamento. Iguais riscos correm as denominações evangélicas que estão debaixo de uma liderança que se auto-denomina apóstolo, uma vez que este indivíduo não possui qualquer estrutura eclesiástica que o possa orientá-lo e corrigi-lo pois ele é o líder maior.

3-    GOVERNO DA IGREJA
A idéia do governo, certamente, que é uma idéia bíblica. Entretanto, não devemos, por isto, achar que o governo seja sagrado. Ele tem procedência divina, mas é exercido por homens constituídos por Deus, e por natureza, sujeitos às falhas, injustiças e muitas imperfeições.
A vida social e religiosa exige governo e institucionalização. Somos seres sociais e vivemos em comunidade e, por isto, necessitamos de regras, leis e padrões para que a vida se torne possível em comunidade. Na igreja não é diferente, e diante disto, só resta a igreja buscar uma governabilidade que seja mais próxima do padrão bíblico e contextualizado a sua realidade religiosa e sociológica.
No contexto da igreja evangélica existem várias formas de governo, desde os mais centralizados e verticais aos mais liberais e democráticos. Cumpre a nós percebermos em cada um deles suas vantagens e desvantagens, pois todos os modelos apresentam sucessos e fracassos. CALDAS (2007) observa que cada modelo apresenta virtudes e defeitos:
Nenhuma modalidade de governo é isenta de problemas. Mesmo porque, independentemente de qual seja a forma de governo em si, a igreja é liderada por homens falhos e sujeitos ao pecado. Essa afirmação não perde de vista que acima das falhas das lideranças humanas, quem governa de verdade e de forma definitiva a igreja é o Senhor Jesus Cristo. Graças a Deus![10]
Diante da realidade destes fatos e com a certeza de que não devemos imaginar um governo perfeito, convém, apenas que estudemos cada modelo com um coração humilde e aberto para a aprendizagem.

3.    1 – Governo Congregacional
Dentre os tipos de governo este é o mais democrático, e que baseia sua administração na capacidade de cada membro da comunidade decidir e opinar sobre os destinos daquela igreja. Todos os procedimentos relativos á escolha de líderes (pastores e diáconos), compra e venda, recebimento de novos crentes etc, tudo é decidido pela comunidade em assembléia. Podemos afirmar que é um modelo, como afirma CALDAS (2007), “todos governam para todos”.[11]
Como conseqüência desta forma de governo, cada igreja local é autônoma, ou seja, não está sujeita a nenhum concílio ou bispado regional, no que concerne a sua administração. Esta forma de governo tem como ponto forte a valorização do indivíduo, enquanto ser competente para tomar decisões sobre si e sua comunidade. Por outro lado, torna a comunidade susceptível de equívocos e erros se a maioria não tiver conhecimentos e maturidade suficiente para gerir os interesses da igreja.
Neste sistema de governo, os oficias da igreja são apenas dois: pastores e diáconos. Ambos são escolhidos e empossados pela igreja local, sendo que os pastores respondem, efetivamente, pela direção espiritual da igreja e os diáconos são auxiliares nas questões mais ligadas a esfera social da igreja.

3.2  – Governo Episcopal
Esta forma de governo é exercida, como o próprio nome denuncia “episcopos (bispo no grego), ou seja, um governo exercido por bispos. Neste sentido há uma hierarquia na forma de governo, sendo que um bispo principal governa sobre os demais, que respondem por determinada diocese, paróquia ou região.
Entretanto, o episcopalismo mais notório é o monárquico exercido pela igreja católica, que tem no bispo de Roma, o bispo dos bispos, sendo que seu cargo é vitalício e sua figura é considerada infalível e seus ensinamentos inquestionáveis. O episcopalismo é praticado, também, por igrejas evangélicas como a metodista e a anglicana. Sendo que no metodismo, cada igreja tem seu pastor, e segundo CALDAS (2007), “as igrejas de determinada região eclesiástica são supervisionadas por um bispo. Os bispos de todo o país formam o Colégio Episcopal”.[12]
Já na igreja anglicana existe a figura do Arcebispo (bispo primaz) que é responsável por uma região ou província, não existindo a presença de um bispo dos bispos, sendo que os mesmos não têm cargo vitalício ou baseado numa sucessão apostólica, sendo eleitos para dois ou três anos de mandato. O líder maior da denominação anglicana é o Arcebispo de Cantuária (na Inglaterra) que exerce simbolicamente, a liderança da denominação, mas que não é considerado superior aos demais bispos. No modelo de governo das igrejas Anglicanas e Metodistas há a presença de três oficiais: O Bispo, o presbítero e o diácono. Na igreja católica há a presença do diácono, do padre, do bispo, do arcebispo, do primaz, do cardeal e do papa.

3.3  – Governo Presbiteriano
O governo presbiteriano é o governo através dos presbíteros. Os referidos são eleitos pela comunidade eclesiástica (igreja) local e auxiliam o pastor da administração local. O pastor também é um presbítero só que com funções pastorais e educativas, que pode ser chamado também de presbítero docente. Os demais presbíteros chamados de regentes estão ligados á administração e governo da igreja. Este modelo de governo, no entendimento de CALDAS (2007) “é considerado uma manifestação da democracia representativa, um governo parlamentarista por excelência”.[13]
Neste modelo de governo há a presença de três oficiais: Presbítero, pastor e diácono. Não havendo hierarquia entre estas posições. A igreja é administrada da seguinte forma: a assembléia escolhe os presbíteros, diáconos e pastores, sendo que os presbíteros escolhidos da igreja local passam a compor o conselho da igreja local, os mesmos presbíteros passam a pertencer ao presbitério (que é um conselho regional de igrejas). Acima deste Presbitério há o Sínodo, que é composto pelos presbitérios de determinada região. Mais acima, ainda há o Supremo Concílio que é o último nível de liderança da denominação.

3.4  – Outras Formas de Governo Eclesiástico
Outras denominações mesclam duas ou mais formas de governo, por entenderem que nenhum dos modelos supra-citados atendem às exigências daquela denominação. Algumas igrejas como a assembléia de Deus adotaram um sistema que mescla Episcopalismo com Presbiterianismo, uma vez que adotam os mesmos oficiais dos presbiterianos: Diácono, Pastor e Presbítero; ao mesmo tempo, que são administradas por um líder regional que responde por um “campo” ou diocese, que recebe o título de pastor presidente.
Existem aqueles grupos cristãos que não adotam nenhuma forma de governo, entendendo que a instituição de líderes sobre o povo de Deus não é bíblica. Um exemplo disto são os Quacres Americanos que consideram pecaminoso a instituição de oficiais na igreja, sendo que no culto público cada um desenvolve seus dons na “direção do Espírito Santo”. Esta idéia de uma igreja sem viés denominacional é antiga e já era proposta pelos Montanistas (século II).

4-    BATISMO E CEIA DO SENHOR, ORDENANÇAS OU SACRAMENTOS?
O debate sobre o assunto é extenso e antigo. Atualmente os batistas e grupos pentecostais entendem o batismo e a ceia como ordenanças, ou seja, cerimoniais com efeito memorial e obediência ao ordenamento bíblico, mas que não são capazes de comunicar virtudes ao fiel. Já outros grupos como presbiterianos e luteranos entendem que tanto o batismo como a ceia são sacramentos, ou seja, que a participação dos mesmos confere algum tipo de graça.
Nesta esteira do debate, fica evidente que a adoção de um pensamento gera outros desdobramentos, ou seja, o defensor do batismo/ceia como sacramento vai admitir o batismo infantil (pedobatista), uma vez que este batismo introduzirá o batizado na aliança e lhe conferirá alguma virtude. Contrariamente, o pensamento da ceia como memorial não admitirá o batismo para crianças (antipedobatista), pois para este o batismo é demonstração racional de fé, sinal de crença voluntária. Quanto à ceia, se entendida como sacramento gerará a idéia de uma presença mística ou real de Jesus nos elementos ou no ritual da ceia, se entendida como memorial, o sentido da ceia não está nos elementos ou no ritual, mas na comunhão com os irmãos e com Cristo, sendo ela, apenas um memorial da morte e promessa da vinda de Jesus.
Devido à possibilidade de um debate interminável, não vamos discutir as duas linhas de pensamento, mas vamos pontuar algumas observações, baseadas nas Escrituras, que não gerarão polêmicas:
a-    Quanto ao batismo:
b-    O batismo foi ordenado por Jesus – Mt. 28. 19, 20;
c-    O batismo é resposta a fé – Mc. 16. 15;
d-    O batismo é símbolo de uma realidade espiritual – Rm. 6. 4;
e-    O batismo não assegura a salvação – At. 8. 13, 20, 21;
f-     O batismo não purifica pecado – At. 15. 9, I Pd. 3. 21; At. 22. 16 (atenção com a leitura e pontuação deste versículo)

b- Quanto à Ceia
1-    A ceia foi instituída por Jesus – Lc. 22. 19;
2-    Os elementos da ceia não se transformaram no corpo de Jesus na primeira ceia realizada (Lc. 22. 19). Certamente que hoje também não...;
3-    A ceia é um memorial antes de tudo – Lc. 22. 19;
4-    A condição primeira para a ceia é comunhão com Deus e com os irmãos, ou seja, a ceia não gera a comunhão, mas torna pública a comunhão – At. 11. 20, 21, 28, 29;
5-    O nome bíblico para esta celebração é Ceia do Senhor, e não Santa Ceia – I Co. 11. 20:
6-    Não podemos afirmar, biblicamente, que a ceia comunica virtudes ou graça especial, uma vez que Judas tomou a ceia e, em seguida, o entregou aos perseguidores – Lc. 22. 19 – 23;
7-    A finalidade primeira da Ceia do Senhor é anunciar a morte de Cristo e proclamar a sua volta – I Co. 11. 26



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·         BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
·         CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja. São Paulo: Mundo -Cristão, 2007.
·         CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.
·         GONZÁLES, Justo L.; PERÉZ, Zaida M. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Hagnos, 2008
·         GRUDEN, Waine. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
·         HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
·         STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2007.




ANEXO I
AVALIAÇÃO DE ECLESIOLOGIA
NOME:
DATA:
QUESTÕES
1-    Defina Igreja, no sentido neo-testamentário, baseando – se no sentido da palavra Ekklesia.


2-    Na caracterização da igreja, dizemos que ela é una, santa, católica e apostólica. Explique cada uma destas características.

3-    Cite algumas passagens bíblicas que nos fazem entender que a igreja é una. 

4-    Faça um paralelo entre o governo congregacional e o episcopal.


5-    Cite o significado da palavra baptismo e justifique a sua crença quanto á forma de batismo (se imersão, aspersão, infusão, etc).


6-    O que é a ceia do Senhor, um sacramento ou uma ordenança? Explique sua resposta.

7-    No seu entendimento quem pode ser batizado? E quanto á ceia, quem pode participar dela?




[1] José Roberto Limas da Silva, Mestre em Ciência da Religião, bacharel em Administração e Teologia, e graduando em Geografia UFMG (jrlspastor@hotmail.com).

[2] OS PENSADORES. Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 2000, p. 292).
[3] ATOS dos Apóstolos. In: A BÍBLIA Sagrada.Tradução de João Ferreira de Almeida. Ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. p. 167
[4] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p.  525.
[5] GONZALEZ Justo L.; PEREZ, Zaida M. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 172.
[6] GONZALES; PEREZ, 2008, p. 174.
[7] GONZALES; PEREZ, 2008, p. 177.
[8] BERKHOF, 2009, p. 528.
[9] GONZALES; PEREZ, 2008, p. 182.
[10] CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 73.
[11] CALDAS, 2007. p. 74.
[12] CALDAS, 2007. p. 76.
[13] CALDAS, 2007. p. 79.

3 comentários:

  1. Excelente leitura e entendimento, facilita e muito a compreensão do tema como um todo.

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  2. Obrigado pelo comentário. Se puder, cadastre-se como seguidor. Abraços, Pr. José Roberto

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  3. Prezados irmaos em Cristo, cumprindo a vontade do Senhor, e somo do ministerio Eclesia e achamos lindo da forma que vcs escreveram, ficariamos honrados em usar dessa forma de escrever Eclesiaem nosso ministerio por isso peco autorizacao para usar essa imagem como base para adapta-la a nosso ministerio.

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