quinta-feira, 9 de maio de 2019



O dualismo cristão em face da cultura consumista da pós-modernidade.[1]
1 – Introdução:
Inicialmente, podemos dizer que as comunidades cristãs primitivas, que partilhavam de uma teologia mais baseada na oralidade e na experiência judaica do velho testamento, cultivavam uma vida bastante ascética e devotada. Vemos nisto o nascimento do dualismo cristão na igreja judaica do primeiro século. Já a igreja do segundo século é uma igreja gentia (não judaica) que passa a dispor de alguma literatura religiosa escrita, começando a discutir uma práxis religiosa baseada nos evangelhos e nas cartas paulinas. A necessidade de fazer frente às seitas filosóficas gregas, como o gnosticismo, obriga a igreja a repensar sua teologia e sua prática religiosa.

A partir do século IV depois de Cristo, em tempos de tolerância religiosa e de estabelecimento do Canôn do Novo Testamento, a igreja desenvolve uma teologia e uma eclesiologia mais elaborada e crítica em relação ao percurso da igreja ao longo dos séculos. Não obstante, é ainda, uma teologia que valoriza o ascetismo e o monasticismo. A mentalidade dualista, representada pela reclusão e devoção asceta, “se afastando da vida social para aprimorar a vida espiritual”[2], vai perdurar por toda a idade média. Neste sentido, “as ideias do filósofo Platão permeiam a mentalidade”[3] cristã. Muitos religiosos vão se afastar da vida social para se recolher a um mosteiro. Desta forma, permanece o pensamento de que o mundo material é mau e que o corpo é um inimigo da devoção espiritual.

No alvorecer da reforma protestante, o foco será o estudo das Escrituras como meio de devoção a Deus. A vida separada do mundo e alienada das realidades políticas e sociais é repensada. A maioria dos reformadores vai propor uma vida religiosa contextualizada à realidade material e cultural. Muitos cristãos, desde este período da história, argumentam que “quando se pratica uma vida religiosa baseada no ascetismo e no monasticismo não se vive uma vida saudável, pois o indivíduo renuncia aos planos naturais da vida”(...)”[4]. Outra crítica recorrente é que “o ascetismo leva o indivíduo ao isolamento das ideias, da cultura e até mesmo de avanços intelectuais”[5].

Em busca do seu espaço no mundo e de um retorno a uma vocação missionária, a igreja reformada vai privilegiar a aproximação da religião do sistema político e cultural, entendendo que “a igreja, nesse momento da história deveria influenciar o mundo, conquistar povos, ganhar cidades já que buscamos a transcendência”[6]. Entretanto, há quem atribua este arrefecimento na vida monástica e ascética ao desenfreado “consumismo presente na modernidade”[7], bem como, pela substituição da devoção pelo “trabalho e pelo lazer”[8].

Não obstante, a herança dualista e dicotômica (duas realidades em oposição, e duas realidades em composição) vai permanecer em alguns segmentos cristãos, especialmente nos grupos mais carismáticos. As igrejas pentecostais (início do século XX) vão representar bem este comportamento mais ascético e monástico, muito embora, até neste meio, observemos que há um “afastamento deste pensamento frente à vida e a realidade social”[9], mas precisamos admitir que “a herança dualista permanece”[10] em grupos mais fechados e fundamentalistas.

Esta herança dualista, manifesta através do comportamento monástico, pode apresentar novas roupagens na cristandade pós-moderna. Se a vida monástica da igreja primitiva e da idade média propunha um afastamento social e geográfico do mundo, podemos perceber em alguns segmentos neo-pentecostais uma busca de isolamento do fiel, “mesmo estando em grupos”[11], caracterizando um isolamento social/individual, mas não geográfico. Estes novos comportamentos parecem estar associados ao “padrão comportamental consumista”[12] da nossa pós-modernidade, onde o mercado de capital globalizado determina a vida social.




[1] LIMAS, José Roberto. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[2] ARAÚJO, Gilsiene. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[3] TAVARES, Cleriston Cleber. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[4] FOLGADO, Guilherme. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[5] DURÃES, Carlos. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[6] ALVIM, Ana Paula. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[7] PIRES, Roberto Azevedo. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[8] MONTEIRO, Sidney Ribeiro. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[9] MEIRA, Elaine. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[10] ARAÚJO, Claudinei. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[11] LEITE, Janete. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.
[12] LEITE, Iago. Curso de Teociências, aula 2. Bocaiuva: 2019.