segunda-feira, 22 de setembro de 2025

 

BREVE RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL SOBRE O RIO GUAVINIPAN NA SUA EXTENSÃO URBANA

FONTE: CBHSF -ZAP DO GUAVINIPAN

O Rio Guavinipan atravessa os territórios das cidades de Bocaiúva, Engenheiro Navarro e Francisco Dumont, no Norte de Minas. Esse curso d’água pertence à sub-bacia do Rio Jequitaí, que por sua vez, é tributária da bacia do Rio São Francisco. “O clima predominante na região é o tropical, apresentando verões quentes e úmidos e invernos secos. A temperatura média anual é de 24° C, enquanto a média das mínimas varia em torno de 18° C, e a média das máximas em 32° C. A precipitação anual é de aproximadamente 900 mm” (CHAVES, 2012, p. 19).

Quanto à vegetação, o rio está inserido no bioma Cerrado, sendo que ao longo de suas margens, no espaço urbano, possui mata ciliar precariamente preservada e, à medida que sai do espaço urbano, predomina a formação de pastagens (com remoção da vegetação própria do cerrado e comprometimento da mata ciliar). O rio por ser um curso d’água temporário (fluindo somente durante alguns meses do anos), praticamente não possui fauna aquática, mas apenas aves, alguns anfíbios e roedores (cobras, lagartixas, ratos e camundongos), que consomem estas águas em poços isolados. Quanto aos animais ligados à pecuária (bovinos, ovinos e equinos), estes não consomem as águas do rio Guavinipan, consideradas inapropriadas para o consumo humano ou animal.

Relativamente à questão socioeconômica, a cidade de Bocaiuva tem uma população de 48.032 habitantes e possui IDH de 0.700, segundo o último censo do IBGE;. Quanto à questão do impacto urbano sobre o rio Guavinipan, percebemos que houve uma redução da mata ciliar entre o período (2021-2025). Observa-se também (no ponto pesquisado do rio) que houve a abertura de uma rua que não existia na configuração de 2021, removendo a vegetação desta espacialidade.

Entrementes, o canal do rio, neste ponto, está sendo alterado (alargado e aprofundado) em função de um processo de limpeza e desassoreamento do mesmo. A cidade, através de um loteamento, avançou sobre a mata ciliar, impermeabilizando o solo às margens do rio, onde, anteriormente, estava a mata ciliar. Verificou-se também que na última atualização do Google Earth (disponível), que é de 22 de setembro de 2023, em comparação com as imagens de 2021, este loteamento se expandiu em direção às margens do rio, removendo parte da mata ciliar e, atualmente (no exato momento desta pesquisa), está alargando o canal do rio e lançando o material removido para as margens.

Ademais, foi percebida em, pelo menos um ponto, a descarga de águas de esgoto no curso urbano deste rio. Assim, na caracterização das margens, do leito e do ecossistema aquático, o rio Guavinipan, no seu percurso urbano, recebeu as piores notas possíveis quanto à estabilidade das margens (0,00), preservação da mata ciliar (0,00), ocupação das margens (0,00), alterações antrópicas (0,00), condições de escoamento (5,00 – regular), odor da água (0,00), presença de óleos/graxas (0,00), cor/turbidez (0,00).  Conclusivamente, o rio, no percurso pesquisado, está ecologicamente caotizado.

O atual processo de limpeza e desassoreamento do rio Macaúbas/Guavinipan, alargando o seu canal, gerou um impacto ambiental significativo, como também expôs outros estresses ambientais que já estavam afetando o rio. O impacto ambiental decorrente da abertura do canal se estende por uma faixa de mais ou menos 600 metros (percurso do canal). Trata-se de uma intervenção pontual do rio, na parte nordeste da malha urbana da cidade de Bocaiuva, onde está situado um loteamento urbano recente.

Outrossim, o rio Guavinipan, da sua nascente a sua foz (percurso de 93,87 km), está sendo impactado, desde longa data, através de atividades de mineração (areeiras); desmatamento das margens para formação de pastagens; remoção da mata ciliar; poluição através de esgotos domésticos; e florestas de eucaliptos nas proximidades de suas margens. Nossa pesquisa, dada a proposta exígua que lhe é inerente, deter-se-á somente no impacto ambiental do rio no percurso pré-mencionado (600 metros).

        A degradação ambiental é uma herança histórica, no contexto do Brasil, que remonta ao período colonial em face da exploração desordenada e irresponsável, primeiramente do pau-brasil, depois do ouro e outros metais preciosos. Logo, o assunto impacto ambiental não é um tema novo e o termo diz respeito ao meio ambiente danificado, degradado ou destruído pela ação de agentes humanos. Portanto, o impacto ambiental caracteriza-se como qualquer alteração das características do sistema ambiental, seja ela física, química, biológica, social ou econômica, causada por ações antrópicas.

        Considerando o caso em análise, que é o impacto ambiental gerado pelo alargamento do canal do rio Guavinipan/Macaúbas, no seu curso urbano (anexo, figura 1), percebemos que esta ação trouxe consequências significativas. Entrementes, o alargamento do canal de um rio visa retificar a calha com vistas à limpeza, aumento da vazão ou desassoreamento, não obstante, sabemos que isto resulta em impactos ambientais como desmatamento das margens, perda de vegetação ciliar, destruição da biodiversidade e alteração dos ciclos naturais de água. Sendo assim, a canalização é uma obra de engenharia realizada no sistema fluvial que envolve a direta modificação da calha do rio e desencadeia consideráveis impactos no canal e na planície de inundação (CUNHA, 2011), mesmo quando o leito do rio não é impermeabilizado. Não somente isto, além das mudanças em função do aumento de vazão e erosão de margens, tais eventos podem desencadear movimentos de massa, como deslizamentos e corridas de lama e detritos” (PAZ; PAULA, 2022, p. 25).

        Desta forma, o alargamento expressivo do canal do rio Guavinipan produziu um montante muito grande de terra, formando um tipo de terraço fluvial (anexo, figura 2). Não somente isto, este material é composto por torrões (material desagregado) que tendem a retornar para o leito do rio durante o período de grandes chuvas. Ademais, o terraço formado pelo material retirado do leito do rio está obstaculizando os canais que, anteriormente, depositavam as àguas pluviais na calha do rio (anexo, figura 3). Outro fator agravante é que parte da mata ciliar foi sobreposta pelo terraço (anexo, figura 4), comprometendo também a planície de inundação, neste percurso. Outrossim, sabemos que “os impactos causados pelas obras de engenharia relacionam-se com as alterações no comportamento natural dos rios, como a perda de sinuosidade do canal, modificações no padrão de drenagem” (DIAS; CUNHA, 2017, p. 40), que poderão escalar em outros problemas ambientais.

       Neste sentido, uma consequência imediata para o ecossistema fluvial é a perda do potencial de captação de águas pluviais devido à obstrução dos canais de drenagem (anexo, figura 5), pois “o processo de escoamento controla o quanto de água atinge e flui pelo canal de drenagem da bacia em um período específico de tempo” (BORGES, 2022, p. 185). Quanto aos impactos sobre a população do entorno, há de se considerar a possibilidade de inundação da área do loteamento focalizado neste levantamento (anexo, figura 6), sobretudo porque os lotes estão muito próximos à vazante (planície de inundação) do rio. É sabido que a “ocupação de áreas ribeirinhas tais como várzeas, fechamento de canalizações por detritos e sedimentos e obras de drenagem impróprias” (PEREIRA; CUNHA, 2022, 130) são elementos determinantes das inundações.

       Portanto, uma intervenção aconselhável, imediata, é desobstruir os canais de drenagem que foram cobertos pelo terraço (montante de terra retirado do canal do rio). Ato contínuo, deve-se espalhar criteriosamente o montante de terra pela planície de inundação, sem destruir a flora (normalmente mais rasteira e arbustiva). E, num segundo momento, faz-se necessária a recuperação da mata ciliar impactada pelo alargamento do rio e pela presença do terraço. Dito isto, quanto aos canais, sabemos que “desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamento” (PRSDUDERSHSA, 2002, p. 18).

       Por isto, a consequência imediata é o barramento da chegada das águas pluviais à várzea do rio e, consequentemente, ao leito do rio. Não somente isto, mas as inundações e “os alagamentos normalmente ocorrem quando há obstrução dos condutos, subdimensionamento ou falta de manutenção dos dispositivos hidráulicos, impedindo que haja escoamento das águas pluviais, consequentemente, gerando pontos de acúmulo no meio urbano” (NYLANDER, 2021, p. 49337). Portanto, ditos canais de drenagem não podem estar entupidos ou obstruídos ou com sua vazão reduzida, como é o caso em tela. Diante disto, os canais obstruídos pelo montante de terra (terraço fluvial) precisam ser imediatamente desobstruídos, sobretudo porque o período de chuvas contínuas começa a partir de outubro/novembro na região do Rio Guavinipan (Norte de Minas Gerais).

       Igualmente, “as matas ciliares têm importante papel na ecologia e na hidrologia de uma bacia hidrográfica, pois auxiliam na manutenção da qualidade da água, na estabilidade dos solos das margens, evitando a erosão e o assoreamento” (SELLES, 2001, p. 29), logo um curso d’água desprovido da mata ciliar tende a perder suas características geomorfológicas. Ademais, não pode ser esquecido que a mata ciliar funciona como filtro e barreira de contenção a materiais sólidos contaminantes, que chegam aos cursos d’água através do escoamento superficial das chuvas. Quanto à restauração da mata ciliar (figura 7), esta pode ser implementada através de “faixas ao longo dos rios e reservatórios, utilizando sempre uma mistura de espécies nativas em geral” (SELLES, 2001, p. 30).

Diante do levantamento de dados apresentados e da brevíssima revisão bibliográfica, percebemos que o rio Guavinipan (num dos seus canais, o Macaúbas) está deveras impactado na sua espacialidade urbana. Tal situação se confirma especialmente no percurso em que o seu canal foi alargado (590 a 600 metros), onde sua planície de inundação foi comprometida com o terraço fluvial, gerado pelo acumúlo de terrras retiradas do seu leito. Outrossim, os canais de drenagem (de águas pluviais) estão obstruídos neste percurso, além da mata ciliar que foi removida ou coberta com o terraço fluvial.

Diante disso, nossa proposta de intervenção, minimamente antecipada no encerramento da revisão teórica, pode ser resumida em duas frentes: conscientização ecológica e ações técnicas. A conscientização ecológica diz respeito a políticas públicas e ambientais que priorizem a preservação e revitalização do único rio que corta a cidade de Bocaiuva, como, também, desenvolver projetos de educação sócio-ambiental nos alunos da educação básica (infantil até o médio).

Dita conscientização ecológica pode ser desenvolvida através de aulas de campo, possibilitando o contato das crianças e adolescentes com esta realidade. Quanto às ações técnicas, elas estão diretamente ligadas a intervenções na geomorfologia do canal, reestruturando e devolvendo a espacialidade da planície de inundação, como também florestando a mata ciliar, desde o talvegue do canal até as margens do rio (anexo, figura 8).

       Finalmente, no contexto deste resumido levantamento de impacto ambiental, houvemos por bem em dar publicidade ao pesquisado. Neste sentido, estamos encaminhando este texto (incluindo registros fotográficos) a uma entidade pública diretamente ligada à questão ambiental, mormente relacionada com o saneamento básico, que é o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Bocaiuva. Tal atitude visa oferecer subsídios técnicos mínimos para que este orgão (SAAE) possa, eventualmente, intervir sobre esta espacialidade impactada.

 

 

ANEXO DE FOTOS E IMAGENS

 

Mapa

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

 

Figura 1 – Mapa produzido pelo autor no Google Earth – extensão do canal alargado

 

 

Uma imagem contendo ao ar livre, grama, campo, em pé

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Figura 2 - Três níveis do rio – leito, talvegue e terraço

Uma imagem contendo ao ar livre, grama, terra, rocha

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Figura 3 – Terraço (ao fundo) obstaculizando o canal de drenagem

 

Árvores ao lado

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Figura 4 - Mata ciliar coberta pelo terraço (material retirado do canal).

 

Árvores ao lado

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Figura 5 - Canal de entrada de águas pluviais bloqueado na portão nordeste pelo terraço

 

Estrada de terra

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Figura 6 - Última rua do loteamento urbano (estreitamento da mata ciliar à esquerda – 20 metros)

 

Diagrama

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Figura 7 – Restauração criteriosa da mata ciliar (adaptado de Selles, p. 57).

 

Figura 8 – Proposta de recuperação da mata ciliar a partir do talvegue (Selles, 2001, p. 24).

 

REFERÊNCIAS

BORGES, Gisele Ferreira et al. Geomorfologia fluvial do brasil associada ao atual contexto socioambiental. In. CARVALHO JÚNIOR, Osmar Abílio de et al. Revisões de Literatura da geomorfologia brasileira. Brasília: Universidade de Brasília, 2022.

CBHSF - Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco. ZAP (Zoneamento ambiental produtivo) da sub-bacia do Rio Guavinipan. Belo Horizonte: Detzel, 2018.

CHAVES, Mario Luiz de Sá et al. Geologia e recursos minerais da folha Bocaiúva SE.23- X-C-III. Belo Horizonte/MG: CPRM, 2012.

CUNHA, S. B. Geomorfologia Fluvial. In: Geomorfologia: uma Atualização de Bases e Conceitos. Guerra, A.J.T; Cunha, S.B. (orgs.). 10ª edição. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2011.

DIAS, Luisa Schneider Moreira; CUNHA, Sandra Baptista da. Mudanças nos canais fluviais da sub-bacia do canal do cunha (RJ): intervenções antrópicas. Revista Equador, Vol. 6, Nº 1, p. 23 – 43, ano 2017.

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ (secretaria de estado do meio ambiente e recursos hídricos). Manual de drenagem urbana. Curitiba: PRSUDERHSA, 2002.

PAZ, Otacílio Lopes de Souza da; PAULA, Eduardo Vedor. Alteração da largura em canal fluvial após assoreamento induzido por corridas de lama e detritos: estudo no rio Jacareí – litoral do Paraná. Revista Cerrados, Montes Claros –MG, v. 20, n. 01, p. 23-43, 2022.

PEREIRA, Cláudia Raquel Pena; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia fluvial e gestão de risco de inundações. In. CARVALHO JÚNIOR, Osmar Abílio de et al. Revisões de Literatura da geomorfologia brasileira. Brasília: Universidade de Brasília, 2022.

SELLES, Ignez Muchelin et al. Revitalização de rios. Rio de Janeiro: SEMADS, 2001.

 

terça-feira, 29 de julho de 2025

 

 

Afinal “O que é o amor?” – AO LARGO Google imagens


O que é o amor¹?

                                                                                                             José Roberto Limas da Silva

O amor é a primeira causa,

o primeiro motivo,

o primeiro sorriso,

o enxugar da última lágrima.

 

O amor não tem fim,

também nunca teve começo,

o amor é de graça

pois nunca teve preço.

 

O amor é simpático e elegante;

é sempre perseverante,

é terno sem ser exigente.

O amor é puro e discreto,

verdadeiro e corajoso.

 

O amor é tudo sem envergonhar o nada;

o amor é maior sem ignorar o menor;

o amor é forte, mas não abandona o fraco;

Então, então, o que é o amor?

O amor é o abraço apertado do Criador

no mais perdido pecador. 


[1] Poema inspirado no texto de Jeremias 31. 3.

 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

 

sociedade do espetáculo – OPINIÃO CENTRAL


CARACTERÍSTICAS DE UMA SOCIEDADE REGIDA PELA IMAGEM E PELA APARÊNCIA - UMA REFLEXÃO A PARTIR DE JOÃO 7. 1 – 13.

EVANGELHO DE JOÃO, CAPÍTULO 7. 1 - 13

¹ Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galileia, porque não desejava percorrer a Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. ² Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima. ³ Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. ⁴ Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. ⁵ Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele. ⁶ Disse-lhes, pois, Jesus: O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso sempre está presente. ⁷ Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más. ⁸ Subi vós outros à festa; eu, por enquanto, não subo, porque o meu tempo ainda não está cumprido. ⁹ Disse-lhes Jesus estas coisas e continuou na Galileia. ¹⁰ Mas, depois que seus irmãos subiram para a festa, então, subiu ele também, não publicamente, mas em oculto. ¹¹ Ora, os judeus o procuravam na festa e perguntavam: Onde estará ele? ¹² E havia grande murmuração a seu respeito entre as multidões. Uns diziam: Ele é bom. E outros: Não, antes, engana o povo. ¹³ Entretanto, ninguém falava dele abertamente, por ter medo dos judeus. 

 

Introdução: A narrativa desta passagem nos faz pensar sobre a importância excessiva que damos à aparência das coisas e dos fatos. A necessidade de ser visto, valorizado e admirado parece uma tônica desde a queda do homem. Na família de Jesus não aconteceu diferente. Seus irmãos, de acordo com a narrativa, constrangeram-no a ir para Jerusalém, a fim de dar visibilidade ao ministério dele e consequentemente oferecer prestígio a toda família. Jesus recusou-se, mas este episódio nos permite analisar as características de uma sociedade regida pela imagem e pela aparência. Paralelamente a esta narrativa, nos lembramos do livro do filósofo francês DEBORD, Guy[1], oferecendo uma crítica densa e consistente à sociedade das aparências e da supervalorização do espetáculo e do entretenimento. Neste horizonte, a vida real é substituída pela agenda das mídias de comunicação, na perspectiva de uma massificação cultural engendrada pelo capitalismo.

1- O sucesso deve ser considerado o principal objetivo

·    O desejo de ser visto pode se tornar mais importante do que a vontade de servir as pessoas– v. 3 – (para que você seja visto);

·    A vida cristã não pode ser baseada nos resultados ou na visibilidade do nosso trabalho – Mt. 7. 22 (muitos milagres);

·     Vivemos no contexto da sociedade do espetáculo, da imagem e da aparência, mas este comportamento não reflete os valores do reino de Deus – Jo. 3. 22 – 30.

 

2-  A busca de adeptos e admiradores como estratégia de mercado

·     Precisamos observar que a busca de admiradores, seguidores e discípulos é uma estratégia comercial e não espiritual – v. 4, 5 – os irmãos de Jesus queriam um líder famoso, não um salvador;

·     A igreja não deve buscar admiradores, seguidores e fãs, mas cidadãos do reino de Deus – Atos 8. 13, 18, 19;

·     A igreja cristã precisa valorizar a discrição, a humildade e o recolhimento – v. 6 – 10 – João 6. 14, 15.

3-  A relativização cultural e a inversão de valores universais

·     Na sociedade globalizada, a maioria das pessoas que inspiram, influenciam e ditam as regras e os costumes são celebridades vazias, volúveis e fúteis (Mt. 23. 25 – 28);

·    A sociedade, na pós-modernidade (modernidade tardia de Giddens, o neomodernismo de Rouanet ou, ainda, modernidade líquida de Baumann) relativizou os valores e desconstruiu as certezas, não conseguindo colocar nada no lugar – Tito 1. 10 – 14 (Cristianismo especulativo);

·     Atualmente, vivemos sob a égide do virtual e do ilusório[2] - Mt. 23. 25 –28; Não podemos esquecer que a imagem não é a realidade e a aparência não pode substituir a essência–Jo.7. 24.


Anexo de textos citados 

Mateus 7. 22

²² Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?

João 3. 22 – 30

²² Depois disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judeia; ali permaneceu com eles e batizava. ²³ Ora, João estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era batizado. ²⁴ Pois João ainda não tinha sido encarcerado. ²⁵ Ora, entre os discípulos de João e um judeu suscitou-se uma contenda com respeito à purificação. ²⁶ E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro. ²⁷ Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. ²⁸ Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. ²⁹ O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. ³⁰ Convém que ele cresça e que eu diminua.

Atos 8:13, 18, 19

¹³ O próprio Simão abraçou a fé; e, tendo sido batizado, acompanhava a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados. ¹⁸ Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito [Santo], ofereceu-lhes dinheiro, ¹⁹ propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo.  

João 6. 14, 15

¹⁴ Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. ¹⁵ Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte.

Mateus 23. 25 – 28 (NTLH)

²⁵ "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. ²⁶ Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo. ²⁷ "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. ²⁸ Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade.

Tito 1. 10 – 14

¹⁰ Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. ¹¹ É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. ¹² Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. ¹³ Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé ¹⁴ e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade. 

João 7. 24

²⁴ Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça.



[1] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997 – publicado pela primeira vez em 1967 na França.

[2] "A Essência do Cristianismo" é uma obra do filósofo alemão Ludwig Feuerbach, publicada em 1841, onde ele critica a religião cristã e a define como uma projeção da essência humana  (IA do Google). Não somente isto, faz um questionamento incisivo quanto ao subjetivismo da fé religiosa, segundo ele, ignorando realidades corporais, materiais e objetivas. Seus sucessores nesta crítica podem ser percebidos, principalmente, em Marx e Nietzche. “Mas claro que para esta época, que prefere a imagem a coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência à essência, esta transformação {...}, é destruição absoluta ou profanação perversa; pois sagrada é para ela apenas a ilusão, mas profana a verdade. Sim, a santidade cresce a seus olhos na mesma medida em que a verdade decresce e a ilusão cresce, de tal modo que o maior grau de ilusão é também para ela o maior grau de santidade (FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Tradução de Adrian Veríssimo Serrão. 5 ed. Lisboa: Fundação Calouste GulBenkion, 2018. p. 431).